No livro “Negacionismo” (“Denialism”), de 2009, o jornalista norte-americano Michael Specter define o significado da palavra como o que acontece “quando um segmento inteiro da sociedade, muitas vezes a debater-se com o trauma da mudança, afasta-se da realidade em favor de uma mentira mais confortável”.
Nos dias de hoje, o negacionismo tem andado nas bocas do mundo por causa das vacinas e da pandemia da Covid-19, traduzido muitas vezes em teorias da conspiração para todos os gostos. Esta semana, porém, outro acontecimento dramático está a motivar o mesmo tipo de reação de que fala Michael Specter: a erupção do vulcão de Cumbre Vieja, na ilha espanhola La Palma, nas Canárias. É falsa? Depois de tantas imagens, em fotografia ou em vídeo, e de testemunhos de pessoas afetadas pela situação, há quem lance essa suspeita nas redes sociais. Mas há, sobretudo, quem acredite que esta atividade vulcânica “não é casual”, foi mesmo “provocada” e que “tudo isto está orquestrado”.
“Se repararem, nas fotos e nos vídeos o vulcão sai desde uma ladeira e não de cima, que é desde onde se supõe que deve sair a lava a de um vulcão”, diz uma utilizadora espanhola no Twitter. Outro avança com a convicção de que a erupção foi desencadeada através de ondas Haarp, uma referência a um projecto que os Estados Unidos da América estão a desenvolver no Alasca com vista a estudar a ionosfera terrestre, a camada superior da atmosfera. “Assim a gente esquece-se da vacina”, argumenta.
Em resposta a esta compilação de teses conspirativas, entre muitas reações em tom de brincadeira, um utilizador desafia alguém a apresentar provas de que não existe “uma tecnologia secreta” capaz de ativar um vulcão adormecido, sujeitando-se, também ele, ao sarcasmo de outros comentários.
O vulcão de Cumbre Vieja está desde domingo, 19, a expelir lava e já destruiu mais de 150 casas, tendo desalojado mais de seis mil pessoas. Como não podia deixar de ser num bom argumento negacionista, culpar o Governo de Pedro Sánchez pela erupção também é tema de “conversa”, mas prevalece a ironia e o bom humor.
Os espanhóis estão a apanhar a onda para se rirem, também, de algumas das teorias da conspiração que têm marcado a fase pandémica que vivemos desde 2020.