Após aperceber-se do impacto ambiental negativo dos tradicionais tapetes de ioga de plástico, cujas marcas importam a camada inferior de borracha ou produzem os seus produtos na China, e incapaz de encontrar uma alternativa amiga do ambiente, a norte-americana Nicky Holmes, fundadora de Gecko – decidiu criar um must have para todos os “yogis”: um tapete de cortiça, livre de plástico, funcional e inteiramente produzido em Portugal.
Apesar de praticar ioga há mais de uma década, a fundadora da marca parou por algum tempo para se dedicar ao seu percurso profissional numa agência de marketing digital. Contudo, a paixão pela prática da modalidade reacendeu-se devido à Covid-19: “Adorei trabalhar lá, mas quando a pandemia começou, percebi o quão desconectada estava do ioga devido ao meu trabalho”, conta Nicky Holmes à VISÃO. “As agências têm um ambiente de trabalho muito acelerado, o que significa que se aprende muito num curto espaço de tempo, mas é difícil ter um estilo de vida equilibrado”, continua. Durante o confinamento, Nicky, fechada em casa, voltou a reconectar-se com o ioga e decidiu apostar tudo no sonho empreendedor de criar a sua própria marca.
A marca surgiu enquanto se questionava se o seu tapete seria sustentável ou como poderia aplicar os seus conhecimentos sobre ioga e negócios para criar uma solução. “Na filosofia que o ioga transmite, é-nos pedido que vivamos de acordo com certos padrões éticos, e quando percebi que o meu velho tapete de ioga não estava a viver de acordo com estes padrões, isso inspirou-me a criar algo diferente”, explica a criadora.
O plástico é insustentável por diversas razões, mas, de acordo com Nicky, “isso não é a única coisa que faz com que os tapetes de ioga convencionais fujam à filosofia da prática”: a maioria deles, esclarece, são produzidos em massa no estrangeiro, o que produz grandes cargas de carbono provenientes das fábricas e transportes, materiais e mão-de-obra de baixo custo, e preços excessivamente elevados para o comércio a retalho.
Sustentabilidade e funcionalidade

A ideia da cortiça surgiu porque a de mais alta qualidade é cultivada, colhida e processada em Portugal e, ao contrário do plástico, “é completamente natural, renovável, e biodegradável”, diz Nicky, acrescentado que isso a deixou “particularmente atraída por ela [cortiça]”. Além disso, também é naturalmente anti deslizante, antimicrobiana e absorvente de choques, tornando-se o “material perfeito para um tapete de ioga”, salienta.
“Os sobreiros nunca são cortados e, em vez disso, a camada externa da casca é colhida da árvore num processo que pode ser feito a cada nove anos, o que, na verdade, ajuda a árvore a ter uma vida longa e saudável, e aumenta a absorção de C02”, destaca. Para Nicky, praticante e professora certificada de ioga desde 2013, essa parte era bastante importante, tendo em conta que a sustentabilidade do produto não podia comprometer a sua funcionalidade.
O nome Gecko foi inspirado no cariz antiderrapante destes tapetes em cortiça: Gecko, que significa lagartixa, em inglês, tem uma parte inferior pegajosa nos seus dedos das mãos e pés que lhe permite agarrar-se a qualquer superfície. Sendo que a maioria dos tapetes de plástico são muito escorregadios, especialmente quando se transpira, ter uma aderência segura “era fundamental”, destaca.
Natural de Newport Beach, na Califórnia, EUA, Nicky mudou-se para Lisboa em 2016, após terminar a sua licenciatura na Universidade do Colorado e procurar embarcar numa experiência profissional no estrangeiro. Esta aventura, que estimava que durasse alguns meses, acabou por se converter em cinco anos, bem como na sua nova morada.
“Quanto mais aprendia sobre o país [Portugal], a sua cozinha, cultura, a sua música, mais me apaixonava por ele, acabando por se tornar também ele na minha casa”, conta Nicky.
A pandemia mudou os consumidores
Na perspetiva de Nicky, a pandemia deu às pessoas a oportunidade de estarem mais conscientes para questões ambientais e refletirem sobre as suas próprias práticas de sustentabilidade. “Afinal de contas, foi aí que comecei a pensar mais sobre a sustentabilidade do meu tapete de ioga”, diz.
Embora considere que o mundo está ainda muito longe do que é necessário, Nicky reforça que é “inegável que, cada vez mais, os consumidores exigem mais responsabilidade e sustentabilidade por parte das marcas – e isso é um ótimo começo”.