Quando Henrique Amaro, Hugo Ferreira e Jorge Álvares decidiram lançar uma editora, tinham uma certeza. A Phonograma não estaria preocupada com os emergentes, bem pelo contrário. A ideia seria escavar o passado e ir em busca de discos marcantes na história recente da música nacional que estavam descontinuados. “Ou, então, editarmos pela primeira vez em vinil uma série de álbuns que só estavam disponíveis em CD e em formatos digitais”, diz Henrique Amaro, radialista e cofundador da Phonograma, juntamente com Hugo Ferreira, dono da editora independente Omnichord, e Jorge Álvares, um dos responsáveis pela fábrica de vinil Grama Pressing, na Maia.
Entre os sete primeiros lançamentos da Phonograma está Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, de José Mário Branco, editado originalmente em 1971, “primordial na história do Portugal contemporâneo”, e Free Pop (1987), dos Pop Dell’Arte, ambos fora de catálogo.
Pela primeira vez em vinil, chegam os longa-duração Pé na Tchôn, Karapinha na Céu (1995), estreia de General D, “com palavras fortes e um discurso, infelizmente, muito atual”, e Domingo do Mundo (1997), de Sérgio Godinho, “um disco cooperativo, no qual participam, entre outros, os Sitiados, os Rádio Macau, o José Mário Branco, o Kalu, dos Xutos, e que marca aquilo que conhecemos hoje do Sérgio”.
A escolha recaiu também sobre Capicua (2012), de Capicua, “álbum onde aparece pela primeira vez uma mulher a fazer hip hop, cheio de fulgor e a ficar no tempo”. Do projeto Megafone, de João Aguardela, surge uma nova coletânea, Música para uma Nova Tradição, que ainda surpreende pelo seu pioneirismo, “numa altura em que há uma nova geração de músicos portugueses que está a dar atenção à música tradicional, trazendo-a para outro tipo de contexto musical”.
A Phonograma recupera, ainda, a versão longa de Remar Remar (1984), canção de culto dos Xutos & Pontapés, “que tinha aparecido uma única vez numa coletânea em CD dedicada ao Johnny Guitar”. O maxi single inclui a versão de quatro minutos desse tema (editado em single pela Fundação Atlântica, de Miguel Esteves Cardoso e Pedro Ayres de Magalhães) e a canção Longa Se Torna a Espera.
Henrique Amaro acredita que estes discos, e outros que ainda vão editar, tanto podem apelar aos que conhecem os títulos e gostariam de voltar a ouvi-los como a uma nova geração que se interessa pela música portuguesa.
As reedições darão origem a quatro conversas na Fnac do Chiado, nas quintas-feiras de maio (dias 9, 16, 23 e 30), com convidados em cada sessão, à volta dos discos de José Mário Branco, do projeto Megafone, de Sérgio Godinho e dos Pop Dell’Arte.