Miguel Sousa Tavares, 69 anos, ainda tem pesadelos em que lhe ligam da gráfica por causa da revista Grande Reportagem, que dirigiu durante toda a década de 90: “Vai fechar amanhã e faltam muitas páginas!” No momento em que lança o seu novo romance (Último Olhar chega hoje, 9, às livrarias) revela à VISÃO que, com algum “alívio”, mas também “cansaço e desilusão”, decidiu deixar o jornalismo. Conversámos com o escritor no seu luminoso apartamento de Lisboa, em Alcântara, mas Miguel Sousa Tavares confessará que não é ali que, hoje, se sente em casa. Perto de Pavia, no Alentejo, sim. Aí, não lhe faltam os seus três maiores luxos: “Silêncio, tempo e espaço.”
O tema da pandemia entrou por um romance que já tinha iniciado adentro, ou este Último Olhar foi pensado a partir de março de 2020?
Começou no dia que indico, no final, como sendo o do início do livro [29 de março de 2020]. O gatilho para a escrita deste romance foi a notícia do apedrejamento duma coluna de velhos infetados em Espanha. O mecanismo detonador dos romances, para mim, funciona muito por acaso. Tinha a escrita de outro livro em curso, um projeto em que ando embrenhado há dois anos… Achava, até, que ia aproveitar o confinamento para trabalhar nisso e, afinal, deu-me para escrever outra coisa completamente diferente.