Agora, junto às caixas de pagamento das lojas FNAC, além dos habituais packs de experiências, como saltos de pára-quedas ou escapadas românticas, perfeitos para oferecer a pessoas que têm tudo, estão os anti-experiências, ideais para aqueles que nada têm e que, sobretudo, não querem continuar a viver aquele tipo de experiências, como a dor, a fome, o exílio ou o medo. Além de estas ofertas para ajudar a melhorar a situação provocada pelas ofensivas terroristas na província de Cabo Delgado estarem disponíveis nos escaparates das lojas, existe também a sua versão virtual, no site da FNAC e também no site oficial do projeto. A compra online demora cerca de um minuto a efetivar, se for feita através de MBway.
Apesar de estes ataques durarem desde 2019, e de existirem cerca de 800 mil deslocados na região de Pemba e na província de Nampula, a visibilidade mediática deste conflito tem sido escassa. Os últimos atentados deram-se em Palma, ao norte de Pemba, depois de a cidade ter sido tomada por rebeldes de Al-Shabaab. Cinquenta mil crianças estão atualmente em alojamentos temporários e necessitadas de bens essenciais.
Tendo em conta que, em Cabo Delgado, a norte de Moçambique, mais de 50 crianças foram raptadas no último ano nas zonas de conflito, quase três mil pessoas morreram e 900 mil estão em situação de emergência alimentar, a Plataforma de Apoio aos Refugiados decidiu lançar esta original campanha, que durará várias semanas, na tentativa de aproximar as pessoas das realidades concretas que ali se vivem. Os packs deveriam incluir vídeos com histórias reais, mas um problema técnico impediu que tal acontecesse. De qualquer forma, alguns podem ser vistos no site, para que se perceba que há vida por trás dos números.
O dinheiro angariado com os packs Anti-Experiência, que custam entre 20 e 50 euros, irá para os parceiros da campanha, com ação direta no terreno, como o Serviço Jesuíta aos Refugiados, a UNICEF e a Caritas. “Ao comprar estes packs, apoia-se quem está em Moçambique a garantir, por exemplo, as necessidades essenciais das crianças ou a fazer face a situações de emergência alimentar”, nota André Costa Jorge, Coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados. Em 2016, angariaram 200 mil euros para ajudar os libaneses. Desta vez, confessa André, “gostávamos de conseguir mais do que isso”.
O responsável por esta organização realça que a campanha pretende trazer o drama de Cabo Delgado para a “agenda mediática”, sensibilizando os portugueses para amenizar o sofrimento de quem lá vive. No fundo, deseja-se que as experiências de medo, fome ou exílio tenham os dias contados.