Um novo estudo do Instituto Max Planck – organização independente alemã de pesquisa científica -, publicado na revista científica Current Biology, na última semana, tentou compreender, através de testes em ratos, como funciona o efeito de espaçamento, um fenómeno em que a aprendizagem é maior quanto mais espaçado é o estudo ao longo do tempo, relativamente que quando se estuda a mesma quantidade de tempo de uma vez só. Na experiência, os animais tiveram de encontrar um pedaço de chocolate num labirinto em três tentativas, com diferentes períodos de tempo entre elas.
Este fenómeno de aprendizagem já tinha sido relatado, no séc. XIX, pelo psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus. No seu livro chamado “Memória: uma contribuição para a psicologia experimental”, de 1885, o investigador observou que a retenção de uma lista de materiais verbais, repetida seis vezes no mesmo dia, era inferior a outra situação em que a lista era repetida uma vez por dia, durante seis dias.
Esta observação, que sugeriu que a informação é mais eficazmente codificada na memória a longo prazo quando as sessões de aprendizagem são intercaladas com grandes pausas, tem sido apoiada por vários estudos realizados nos últimos 100 anos, mas ainda não se percebeu exatamente como a memória é reforçada neste fenómeno.
Annet Glas, neurobióloga e uma das autoras do novo estudo, salientou que, a curto prazo, “os ratos que foram treinados com os intervalos mais longos entre as fases de aprendizagem não foram capazes de se lembrar da posição do chocolate tão rapidamente”, mas, “no dia seguinte, quanto mais longas foram as pausas, melhor foi a memória dos ratos”.
Quando fizeram zoom na atividade neuronal do córtex pré-frontal dorsolateral dos animais – região cerebral fundamental para os processos de aprendizagem – os investigadores esperavam ver, em fases de aprendizagem seguidas, uma reativação dos mesmos neurónios. “Afinal de contas, é a mesma experiência com a mesma informação”, reforçou Pieter Goltstein, outro investigador do estudo. Após uma longa pausa, seria expectável que o cérebro interpretasse a fase de aprendizagem seguinte como um novo desafio e a processasse com neurónios diferentes.
No entanto, o resultado revelou exatamente o contrário: com pausas mais longas entre as fases de aprendizagem, foram detetados padrões semelhantes de atividade neuronal, e em fases de aprendizagem seguidas (sem pausas entre elas), pareciam apresentar diferentes agrupamentos de atividade neuronal.
Segundo Goltstein, isto demonstra que os espaçamentos de tempo entre as fases de aprendizagem podem reforçar os percursos de memória a longo prazo. Nos ratos, o espaçamento ideal entre as fases de aprendizagem – em que melhoraram a recuperação da memória no dia seguinte – foi de 30 a 60 minutos. Em intervalos mais curtos ou mais longos entre as fases de aprendizagem, não se verificaram benefícios particulares à retenção de memória no dia seguinte.
De acordo com os resultados da experiência, os investigadores sublinham que “o espaçamento experimental aumenta a força da conectividade do neurónio, tornando a memória mais robusta e aumentando a probabilidade de recuperação de memória”.
“Os nossos resultados fornecem a primeira descrição direta de como a atividade da mesma população neuronal, durante a codificação e recuperação de memória, medeia o efeito de espaçamento, um fenómeno originalmente descrito há mais de um século”, concluem.