A maioria das relações humanas baseia-se em fatores como tempo, afeto e união, que, quando compatíveis e interligadas, podem provocar uma ligação entre duas pessoas. Contudo, durante a pandemia, muitos relacionamentos foram testados, uma vez que um dos elementos chave – tempo – foi, nuns casos, diminuído e, em outros, aumentado.
Poderá a comunicação digital substituir o contacto humano? Como lidaram os casais com situações stressantes pelas quais nunca tinham passado?
Na Revista de Relacionamentos Sociais e Pessoais estão publicadas várias investigações direcionadas, segundo Pamela Lannutti, diretora do Centro de Estudos da Sexualidade Humana da Universidade de Widener, nos EUA, e editora da revista, para a “ciência das relações”, alguns resultados foram expectáveis: nas relações que envolveram profissionais de saúde, o apoio próximo do parceiro neste período foi muito preciso, enquanto que a questão a distância nas relações entre jovens universitários acabou por afastá-los. No entanto, outros resultados mostraram-se já mais surpreendentes e inesperados.
Os papéis do homem e da mulher em casa ficaram ainda mais distintos, ao invés de igualitários
Um dos estudos, publicado em março, por investigadores neozelandeses, revelou que a medida de confinamento imposta em todo o mundo, que obrigou as pessoas a trabalhar de casa e ao encerramento das escolas, fez com que as mulheres assumissem muito mais responsabilidades em casa do que os homens e, embora estes se apercebessem, não se incomodavam. Esta situação de desequilíbrio levou à insatisfação da mulher na relação. “Nota-se definitivamente uma mudança em relação aos papéis tradicionais de género, de formas que talvez não existissem antes da Covid-19”, o que, de acordo com Lanutti, “abalou a sociedade de forma inesperada e muito rápida”.
Os solteiros não se acomodaram e continuaram à procura de um parceiro
Embora fosse esperado que as pessoas solteiras baixassem o nível de exigência nesta altura mais difícil para encontrar um parceiro, principalmente em relação à aparência física, num inquérito multinacional, publicado em maio, a cerca de 700 pessoas solteiras – maioritariamente mulheres – descobriu-se que esse elemento ainda era importante.
Os encontros presenciais continuaram a existir para as pessoas que não gostam de videochamadas
Um estudo universitário realizado no Utah, EUA, e publicado em janeiro, descobriu que aqueles que tinham dificuldades de adaptação às formas de comunicação digital por vídeo – Zoom, Bluejeans, Microsoft Teams, entre outros – tinham mais probabilidades de violar as medidas de distanciamento social. “A necessidade de conexão física sobrepõe-se ao que está a acontecer naquele momento, o que é um pensamento assustador”, referiu Bevan, acrescentado que a necessidade deste tipo de ligação é “realmente difícil” de ser anulada.
Os casais que evitaram discutir estavam mais infelizes do que os que exprimiam o que os incomodava
Num estudo, publicado em março, que envolveu casais homossexuais, constatou-se que um quinto dos participantes estava a viver em conjunto apenas devido à pandemia, provocando casos de ansiedade e depressão, uma vez que não exprimiam o que os incomodava. “Recomendamos que casais do mesmo sexo discutam ativamente a sua mudança nas decisões em vez de se apressarem a coabitar sem considerações adequadas”, sugeriram os investigadores.
As personagens fictícias e as celebridades tornaram-se amigos
Os investigadores concluíram num estudo, em maio, que as “relações parassociais” – com pessoas que não conhecem, mas com quem se forma apego – aumentaram. As pessoas seguiam celebridades através de redes sociais ou plataformas de streaming, a partir de casa, e, embora a relação com os amigos continuasse estável, estavam menos vezes juntos, devido às medidas de distanciamento social, aproximando-os de pessoas famosas, ou mesmo personagens fictícias.
Hábitos de construção de resiliência pareciam ajudar os casais a continuar
Neste período de contexto pandémico, os casais enfrentam situações de stress conjugal, que influencia o estado emocional e provoca incertezas quanto à relação. Um estudo publicado em abril, que analisou como é que a Teoria da Resiliência da Comunicação – defende que a capacidade de “se recuperar ou se reintegrar após experiências de vida difíceis”, não é possuída pelo indivíduo, mas pelo discurso, interação e processos – pode melhorar a incerteza relacional, constatando que a concentração em cinco hábitos pode fazer com que a relação resista mais facilmente a momentos difíceis: tentar manter uma certa normalidade, manter e usar redes de comunicação, ter âncoras de identidade, construir lógicas alternativas (como alguém que use, por exemplo, o humor para lidar com um diagnóstico de cancro) e privilegiar a ação produtiva em vez dos sentimentos negativos. No inquérito, realizado a 561 pessoas casadas, conclui-se que os casais que utilizaram essas estratégias estavam a dar-se melhor com os seus parceiros durante a pandemia. O humor também foi um elemento que ajudou os casais a lidar com o confinamento, embora nem sempre tenha melhorado a comunicação.