No início é o sonho, fica-se “de esperanças” e deseja-se a chegada feliz de um novo ser, sem conceber que a experiência assuma contornos de pesadelo. Práticas e intervenções evitáveis ou não consentidas, como exames de toque excessivos, indução do parto com ocitocina para acelerar as contrações do útero, cesarianas, episiotomias (incisão no períneo durante o parto) por rotina ou a manobra de Kristeller (pressão na barriga banida por não ter base científica), podem ser exemplos de violência obstétrica. A expressão põe os cabelos em pé aos profissionais de saúde – “maltrato” é mais aceitável, segundo a Ordem dos Médicos –, mas é uma realidade para uma imensa minoria de mulheres disposta a falar abertamente sobre isso.
“Um médico cuja arrogância era maior do que a sua altura chega até mim com os seus 20 alunos e não me diz ‘boa-noite’. Explica aos alunos que está ali uma mulher sem dilatação e todos me olham como um dinossauro no Museu de História Natural.” Assim começa a crónica da radialista e autora Inês Meneses, no jornal Público, em abril, sobre as duras memórias do seu parto, aos 36 anos. “Fiz terapia e não tive mais filhos e hoje teria comprado a minha ausência de dor recorrendo ao setor privado, mas é triste ser assim”, confessa à VISÃO, admitindo que “felizmente, a arrogância tremenda por parte de alguns médicos foi-se diluindo com a era da internet e das redes sociais (ver caixa)”.