Um novo estudo, realizado por investigadores da Universidade Duke, em Durham, Carolina do Norte, EUA, concluiu que, ao longo dos tempos, os cães foram desenvolvendo, a partir da convivência com humanos, capacidades de teoria da mente – ou mentalização -que faz com que estes animais consigam, muitas vezes, perceber o que as pessoas pensam e sentem e interagir de acordo com isso.
A grande questão para os investigadores deste estudo tinha a ver com a forma como os cães desenvolveram as capacidades de perceção relativamente aos sentimentos dos humanos. Estas habilidades seriam um resultado natural da evolução ou eram consequência de longos anos de domesticação deste animal? Brian Hare, professor de antropologia e autor principal do estudo, explica à CNN que “as primeiras habilidades que parecem, à partida, ser hereditárias são, de facto, um produto da domesticação”, uma vez que os lobos não têm o mesmo padrão de desenvolvimento desenvolvimento que os cães.
Para a realização da investigação, publicada na segunda-feira na revista Current Biology, a equipa comparou a interação de 44 cães bebés e 37 lobos bebés, todos entre as cinco e as 18 semanas, com os humanos. Os cães eram todos Labrador Retrievers, Golden Retrievers ou Golden Labs e os lobos pertenciam ao Wildlife Science Center, no estado do Minnesota, EUA.
Os cães bebés foram enviados para humanos apenas às oito semanas, depois de fazerem o desmame e deixarem os irmãos. Portanto, durante as primeiras seis a oito semanas de vida, as interações que os bebés tiveram com humanos foram muito poucas. Já os lobos bebés foram colocados ao cuidados de humanos dez ou 11 dias após o seu nascimento, criando contacto íntimo de forma ininterrupta: foram alimentados pelas mãos de humanos e dormiram nas suas camas todas as noites.
A equipa fez, às oito semanas dos cães bebés e às cerca de nove semanas dos lobos bebés, testes com estes animais e deu conta de que os primeiros tinham 30 vezes mais probabilidade de se aproximarem de humanos estranhos relativamente os lobos bebés. Além disso, de acordo com os investigadores, os cães bebés, assim que viam humanos, saltavam para cima deles e lambiam-nos. Já a maioria dos lobos bebés, embora tenham passado mais tempo com os humanos nesta investigação, e de forma mais íntima, escondiam-se deles.
Em exercícios realizados com os animais, em que o objetivo era encontrar uma guloseima debaixo de uma das duas tijelas dispostas à sua frente, com dicas dadas pelos humanos – apontar e olhar na direção certa -, os cães bebés responderam muitas mais vezes corretamente do que os lobos bebés. Já quando os investigadores apresentaram a comida em caixas fechadas, os lobos tentavam abri-las sozinhos e os cães “pediam ajuda” aos humanos para o fazer.
Segundo Brian Hare, os cães são, de facto, “uma das espécies mais bem-sucedidas” do mundo e, comparativamente aos lobos, o seu número é muito maior. Isto tem a ver com as capacidades que os cães foram desenvolvendo para se unirem mais aos humanos. “Os lobos vivem de forma selvagem e têm, obviamentem medo de humanos, o que não permite que eles tenham o mesmo tipo de relacionamento”, explica o investigador, acrescentando que, “infelizmente, isso significa que os humanos perseguiram, caçaram e fizeram coisas horríveis aos lobos, não tendo sobrado muitos”.
Os pesquisadores querem, agora, estudar de que forma e em que tipo de atividades os lobos superam os cães ao nível de capacidades interativas. “Acho que fazê-lo vai ajudar as pessoas a apreciar e compreender melhor os lobos, porque eles são notáveis”, refere o investigador.
Na verdade, uma investigação de 2019 revelou que os lobos tem mais tendências para ajudar os membros da sua alcateia do que os cães para ajudar a sua matilha. O estudo, publicado na revista científica PLOS ONE, descreveu experiências que tiveram lugar no Wolf Science Center em Viena, Áustria, e sugeriu que os cães podem herdar as suas tendências cooperativas dos lobos, em vez de através do contacto com humanos.