O assassinato de Samuel Luiz Muñiz, de 24 anos, na Corunha, Espanha, está a gerar uma onda de comoção e indignação no país vizinho. Na madrugada do passado sábado, o jovem foi brutalmente agredido à porta de uma discoteca – naquilo que tem sido descrito pelas testemunhas como um ataque homofóbico –, por um grupo de, pelo menos, 13 indivíduos. Os ferimentos acabariam por lhe ser fatais.
O El Mundo conta esta segunda-feira como tudo aconteceu. Samuel, que trabalhava como auxiliar de enfermagem num lar de idosos, tinha saído à noite para se divertir com mais três amigos na passada sexta-feira, dia 1 de julho, naquele que seria o primeiro fim-de-semana com os espaços de diversão noturna abertos na Galiza, depois de dez meses e meio de apertadas medidas devido à pandemia. Já na madrugada de sábado, dia 2, por volta das três da manhã, Samuel e uma amiga deslocaram-se ao exterior da discoteca para fumarem e realizarem uma videochamada.
A determinada altura um homem e uma mulher (identificados como sendo mais ou menos da mesma idade de Samuel), que passavam pelo local, exigiram à dupla “que parassem de gravá-los”. E nem a explicação pronta que se tratava, apenas, de uma videochamada permitiu travar a violência que se seguiria. As testemunhas garantem que o agressor dirigiu-se exclusivamente a Samuel, aos gritos: “O paras de grabar o te mato, maricón [ou paras de gravar ou mato-te, maricas]!”. A vítima ainda lhe terá respondido: “Maricón de qué [Porquê, maricas]?”. Mas o destino trágico que se abateria sobre aquela noite estava traçado. Samuel foi imediatamente agredido com um soco no rosto que o derrubou. Seguiram-se, então, vários golpes por todo o corpo, apesar do pânico e das tentativas de socorro de alguns dos presentes.
Numa primeira ocasião, o agressor até abandonou o local, mas, cinco minutos depois – e aproveitando o facto de a amiga estar à procura do telemóvel de Samuel, perdido no meio da confusão –, regressou, desta vez com reforços, acompanhado por um grupo de mais 12 pessoas, que encurralaram e espancaram violentamente a vítima indefesa. As testemunhas garantem que tudo se passou muito rapidamente. Samuel foi deixado inconsciente no solo. A polícia local da Corunha chegou passados 10 minutos, assim como uma ambulância e a Polícia Nacional para tomar conta da ocorrência. Samuel ainda foi transportado para o hospital, mas não voltou a despertar. Morreria pouco tempo depois.
Entretanto, organizações de defesa dos direitos LGBT e várias personalidades manifestaram-se perante este ato de violência. Para esta segunda-feira, às 20h, foram convocadas, pelas redes sociais, concentrações em várias cidades da Galiza para apelar ao fim da violência homofóbica. As autoridades anunciaram que, nas últimas horas, vários suspeitos do assassinato de Samuel já foram identificados (alguns serão menores de idade).
Gisberta: o mais mediático caso em Portugal
Ainda está bem vivo na memória o caso de Gisberta, a transexual que, aos 45 anos, foi morta no Porto por um grupo de rapazes entre os 12 e 16 anos das Oficinas de S. José – e que sobreviveu como exemplo de homofobia e transfobia em Portugal.
Gisberta tinha chegado ao País com apenas 20 anos para fugir a uma vaga de violência contra transexuais em São Paulo, no Brasil, e chegaria a atuar, durante vários anos, em bares como transformista. A vida não lhe seria, porém, generosa. E, em 2005, a imigrante brasileira, prostituta e seropositiva, vivia num prédio abandonado no centro da Invicta.
O grupo de rapazes, que seria responsável pela sua morte começou a visitá-la naquele local. Primeiro, por curiosidade; depois, por crueldade. No início de 2006, tiveram início as ofensas e agressões. Após vários dias, semanas de abusos, e perante a fragilidade física de Gisberta, os jovens, julgando-a já morta, decidiram livrar-se do corpo, atirando-o para um poço. Era fevereiro daquele ano. A transexual ainda estava viva e morreu por afogamento, como confirmaria mais tarde o relatório da autópsia ao corpo. Gisberta tornar-se-ia tragicamente mais um símbolo da violência contra a comunidade LGBT.