Apesar de não haver provas concretas que o excesso de confiança provoque diretamente uma maior propensão para assimilar e partilhar notícias falsas, a grande distância que existe entre a perceção que uma pessoa tem da sua própria capacidade para detetar fake news e a sua capacidade real para o fazer pode ser uma porta aberta para a (ainda maior) disseminação deste tipo de conteúdo.
A partir de entrevistas realizadas a mais de 8 mil americanos, a quem foi pedido que avaliassem de forma mais precisa possível várias manchetes partilhadas no Facebook, os investigadores perceberam que há muitas pessoas que não têm noção da sua dificuldade em identificar notícias falsas: de todos os participantes, a equipa concluiu que 90% deles indicaram estar acima da média relativamente à sua capacidade de distinguir o que é verdadeiro do que é falso.
Citado pelo The Guardian, Ben Lyons, professor na Universidade de Utah, em Salt Lake City, e principal autor do estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, mostra-se espantando com a percentagem de pessoas que exibe excesso de confiança – 70% “é um número tão grande.”
Após as entrevistas, os investigadores analisaram o comportamento online dos participantes e perceberam que os que tinham referido conseguir percecionar facilmente o que é uma informação falsa foram os que, na generalidade, acederam a sites conhecidos por disseminar notícias falsas e enganosas, assim como reveleram maior tendência para partilhar este tipo de conteúdo. A equipa descobriu ainda que os assuntos mais tendencialmente partilhados têm a ver com política, sendo que os participantes partilham mais conteúdos políticos que estejam alinhados com os seus ideais.
“Os homens entrevistados exibiram mais excesso de confiança, uma descoberta consistente com o que já existe sobre excesso de confiança: os homens são sempre mais confiantes do que as mulheres”, explicou o autor, sugerindo que o género possa ser um fator importante na maior ou menor probabilidade de se ter excesso de confiança.