Um novo estudo mostrou pela primeira vez que é possível recuperar parcialmente a visão em casos de retinose pigmentar, uma doença hereditária que causa a perda gradual de visão. Este distúrbio genético raro, que afeta cerca de 2 mil pessoas em todo o mundo, pode mesmo levar à cegueira, anteriormente considerada irreversível.
O estudo foi publicado na última segunda-feira, 24, na revista Nature Medicine, e foi realizado pela Universidade de Sorbonne, em Paris, França, e pela Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, EUA. Para a realização dos testes, foi incluído um homem francês de 58 anos, diagnosticado com a doença quando tinha 18 anos. O doente já se encontrava em estado de cegueira, depois de 40 anos a perder gradualmente a visão, tendo, no momento da realização do estudo, apenas perceção luminosa. Com a ajuda de uma proteína contida num vírus inofensivo e de uns óculos especiais, o homem conseguiu voltar a distinguir objetos.
No entanto, o voluntário do estudo não recuperou completamente a visão – não consegue ver cores, distinguir rostos ou letras, nem consegue ver sem a ajuda dos óculos especiais. Contudo, a recuperação parcial da visão já é um grande progresso para a ciência, sendo este o primeiro caso de um doente com retinose pigmentar a conseguir fazê-lo.
O que os investigadores fizeram foi contornar o problema que a retinose pigmentar provoca aos fotorreceptores, receptores sensoriais responsáveis pela visão. Estas células captam a luz que chega à retina e transmitem-na ao cérebro num impulso nervoso, que vai permitir aos humanos reconhecer imagens. O que a doença faz é destruir os fotorreceptores, provocando cegueira. Uma vez que o nervo ótico não deixa de funcionar, a luz continua a chegar, mesmo assim, ao cérebro.
Na experiência, injetou-se, em apenas um olho do paciente, um vírus inofensivo que continha a proteína ChrimsonR, que abre os canais elétricos e os torna reativos à luz. Foi um processo moroso, uma vez que teve de se esperar quatro meses até que as células começassem a produzir a proteína. De seguida, foi necessário treinar o doente, para que se habituasse a utilizar os óculos de proteção especiais, que controlam a intensidade da luz que recebe.
Foi necessária uma grande quantidade de luz para conseguir chegar ao cérebro, mas sem a ajuda dos óculos para a regular essa luz pode ser tão perigosa como olhar diretamente para o sol, explicaram os cientistas. Uns meses depois, o homem conseguiu, finalmente, começar a ver. Os cientistas esperam que estes bons resultados possam durar até 10 anos ou mais. Se isso não acontecer, a proteína terá de voltar a ser injetada.
Por enquanto, este tratamento será apenas um recurso para pessoas num estado muito avançado da doença, sendo necesário realizar mais testes antes que o tratamento possa ser disponibilizado para a generalidade dos doentes. No futuro, os investigadores esperam conseguir especificar a dose necessária e qual a melhor altura para ser injetada a proteína e melhorar os óculos e o treino dados aos doentes.