Laurel Hubbard, de 43 anos, poderá ser a primeira mulher transgénero a competir nos Jogos Olímpicos de Tóquio2020, no levantamento de peso. Apesar de a desportista ainda não ter sido anunciada pela equipa da Nova Zelândia, depois de vários órgãos de comunicação internacionais terem noticiado a qualificação da atleta, o Comité Olímpico da Nova Zelândia (NZOC na sigla inglesa) emitiu um comunicado em que diz que é “bastante provável” ver atletas como Hubbard no sistema de qualificados, depois da revisão das regras de qualificação.
Esta mudança deve-se à alteração feita pelo Comité Olímpico Internacional (COI) que diminuiu o número de competições prévias necessárias para ser qualificado, de seis para quatro, devido ao impacto que a pandemia teve na realização das mesmas. Esta alteração fez com que a atleta ficasse elegível para ser qualificada. Se realmente o for é esperado que o comité anuncie em junho se a nomeia para a sua equipa, sendo que estas têm de estar formadas até 5 de julho.
Hubbard venceu a medalha de prata em 2017 no campeonato mundial, tendo no mesmo ano levado a medalha de ouro no Australian International e no Australian Open. Já em 2019, um ano depois de sofrer uma grave lesão no cotovelo, conseguiu o primeiro lugar nos Jogos do Pacífico, nas ilhas Samoa e um ano depois, mais uma medalha de ouro no World Cup Rome 2020.
“Não estamos na posição de comentar a probabilidade da seleção de nenhum atleta até termos as provas necessárias”, admite o NZOC. Muita é, no entanto, a especulação de que Hubbard se torne na primeira transgénero a participar na competição. Se acontecer, este será um momento que ficará para a história e que divide as opiniões entre quem o considera um grande avanço para os atletas transgénero e os críticos que defendem a justiça da sua participação.
Desde novembro de 2015 que a Federação Internacional do Levantamento do Peso segue as linhas orientadoras do COI no que refere a atletas que fizeram a transição de homem para mulher. Estas podem competir nas categorias femininas, sem necessitarem de cirurgia de mudança de sexo, desde que o seu nível de testosterona seja mantido abaixo de 10 nanomol por litro de sangue, durante pelo menos 12 meses antes da competição.
No entanto, vários são os cientistas que defendem que esta regra não tem em conta as vantagens biológicas dos atletas nascidos com o sexo masculino, tais como a densidade óssea e muscular. Artigos científicos recentes mostram que os jovens que passam pela puberdade masculina mantêm vantagens significativas em termos de poder e força, mesmo depois de tomar medicação para suprimir os níveis de testosterona.
Hubbard fez a transição já depois dos 35 anos. A atleta competiu na categoria masculina até 2001, tendo parado aos 23 anos. “A pressão de tentar encaixar num mundo que, talvez, não estava preparado para pessoas como eu”, foi o argumento para justificar a paragem, segundo uma entrevista que deu em 2017. “Para ser sincera, tive de esperar até que o mundo mudasse antes que pudesse voltar a competir, e estou bastante grata que tenha mudado”, acrescentou.
No entanto, quando venceu a medalha de ouro nos Jogos do Pacífico em 2019, a atleta levantou uma onda de indignação. Vários grupos e atletas pediram para que as autoridades desportivas pusessem fim ao que consideravam uma “competição injusta”, por permitirem que uma mulher transgénero competisse numa categoria feminina. Também em 2018 tinha havido uma tentativa da Federação de Levantamento de Peso da Austrália de impedi-la de participar nos Jogos da Commonwealth de 2018, que foi, no entanto, rejeitada pelos organizadores.
“Estou aqui para mudar o mundo. Só quero ser eu e fazer o que faço”, foram as declarações da atleta em 2017. Hubbard encontra-se atualmente no 16º lugar do ranking mundial, sendo que seis das atletas acima dela não irão comparecer aos Jogos Olímpicos devido ao limite de apenas um atleta nacional por categoria. Na Oceânia encontra-se em segundo lugar, antecedida por Feagaiga Stowers, das ilhas de Samoa.
Os Jogos Olímpicos de Verão 2020 foram adiados devido à pandemia e remarcados para este ano, de 23 de julho a 8 de agosto, em Tóquio.