Antes de o termo Covid-19 ter entrado nas nossas vidas, já todos sabíamos o que aí vinha. Mais automação e robotização, mais flexibilidade e adaptabilidade pedidas aos trabalhadores, mais competências adquiridas e afinadas durante a carreira – ainda mais longa por causa do inverno demográfico que pende sobre as nossas cabeças. No fim de tudo isto, teríamos velhos empregos destruídos e novas ocupações criadas no seu lugar.
Estas eram as balizas que desenhavam o futuro do trabalho, pelo menos nas economias mais avançadas. Da mesma forma, não eram novos os debates em torno da semana de quatro dias, nem o crescimento da gig economy e o trabalho remoto. Mas ninguém esperava pelo abanão que nos obrigou a responder com o digital às necessidades de distanciamento, sobrepondo casa e escritório ao longo dos sucessivos confinamentos.
De repente, profissões na linha da frente (saúde, grande distribuição, agricultura, logística e serviços básicos) saltaram para o topo das mais requeridas; quem tinha trabalho que pudesse ser feito a partir de casa assegurou emprego e rendimento – prova dos efeitos desiguais desta crise; o socorro dos apoios sociais não chegou a todos, muito menos com a dimensão vista noutros países. Mas, depois de a poeira assentar, com vacinação em massa e imunidade de grupo, teremos todo um novo mundo do trabalho? Ou uma versão 2.0 ou 3.0 daquilo que já se anunciava como irreversível?