Matt Hepburn, especialista em doenças infecciosas, é o cientista da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA na sigla inglesa), uma agência federal ligada ao Pentágono, responsável por avanços tecnológicos que podem mudar completamente a forma como encaramos as pandemias. “Nós desafiamos a comunidade científica a criar soluções que mais parecem ficção científica”, concorda o militar na reserva em entrevista ao programa “60 Minutos” da CBS.
Em causa está agpra um sensor capaz de detetar o vírus SARS-CoV-2, bem como qualquer outra doença, antes que o infetado desenvolva qualquer tipo de sintoma e um filtro capaz de remover a infeção do sangue. O sensor é um pequeno gel verde, com textura semelhante à pele, programado para testar continuamente o sangue. “Põe-se debaixo da pele e o que nos diz é se existe alguma reação química a acontecer dentro do corpo. Se existir significa que iremos ter sintomas no dia seguinte”, explica Hepburn, esclarecendo que não se trata de um microchip do governo para controlar a população, como faz crer uma das teorias da conspiração associadas à vacinação contra a Covid-19.
A ideia surgiu depois do que aconteceu com o navio americano USS Theodore Roosevelt, que no ano passado, no início da pandemia da Covid-19, viu a doença propagar-se a mais de 1200 tripulantes. Se todos tivessem o sensor implementado, este teria emitido um sinal a cada militar que pudesse ter a infeção, mesmo que fosse assintomático. “Podemos ter essa informação entre três a cinco minutos. Ao cortarmos esse tempo, de diagnosticar e tratar, o que fazemos é parar a infeção no começo”, acrescenta. O sensor já se encontra em fase de testes avançados.
Já no que diz respeito ao filtro, este já foi autorizado no tratamento de 300 pacientes em estado crítico. Um destes, a “Paciente 16”, mulher de um militar, encontrava-se entre a vida e a morte, em choque sético e com os órgãos a falhar. O tratamento de quatro dias salvou-lhe a vida, acabando por recuperar totalmente, conta a CBS. O filtro é introduzido numa máquina de diálise e o que faz é “limpar” o sangue ao passá-lo pela máquina. “Passamos [o sangue pelo filtro] e o vírus sai”, explica o físico. A técnica de diálise é usada comumente no tratamento de problemas renais, mas a inovação está no facto de conseguir remover o vírus da Covid-19 do sangue. Este filtro só é, neste momento, autorizado pelos Estados Unidos em casos de emergência.
“Se queremos dizer que isto [a pandemia da Covid-19] não pode voltar a acontecer, temos de agir ainda mais depressa da próxima vez. A nossa missão é tirar as pandemias da equação. Estamos dispostos a arriscar com investimentos de alto risco que podem não resultar. Mas, se resultarem, podemos mudar completamente o panorama”, acredita o especialista.
Kayvon Modjarrad é, também, um cientista do Pentágono cujo objetivo é travar todas as variantes do coronavírus. “Estamos a tentar, não apenas fazer uma vacina para este vírus, mas sim uma vacina para toda a família dos coronavírus”, explica. Esta vacina já se encontra em fase de testes e Modjarrad espera que, dentro de cinco anos, esteja a ser usada para imunizar contra todas as variantes, desde as que se assemelham a uma “simples gripe” até às mais mortíferas. “Isto não é ficção científica, isto é um facto científico. Nós temos as ferramentas e a tecnologia para o fazermos agora. Ficaremos protegidos contra vírus mortíferos que ainda não vimos e não podemos sequer imaginar”, acrescenta.