Nos últimos quatro anos, “temos uma taxa de devolução à natureza de cerca de 70% destas aves rupícolas e noturnas [de pequeno, médio e grande porte] que aqui são recuperadas, uma percentagem considerada muito positiva. Dos vários animais como mamíferos ou répteis aqui recebidos para tratamento, 90% são aves”, disse à Lusa a médica veterinária do CIARA, Andreia Gil.
Este centro ambiental está localizado no Felgar, concelho de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, sendo uma espécie de centro de treino de alto rendimento para aves, que, por vários motivos, sofreram lesões graves ou outro tipo de acidente/doença e que precisam de reaprender a voar para depois serem devolvidas ao seu habitat natural.
O centro está instalado nas proximidades de verdadeiros santuários da avifauna natural, como é o caso do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), Área Protegida do Azibo ou os Lagos do Sabor.
Depois de treino no túnel de voo do CIARA, que poderá durar algumas semanas, aves como grifos, milhafres, águias, britangos, abutres ou outras espécies da avifauna selvagens, algumas ameaçadas de extinção e originárias de vários pontos país, ficam aptas para o reinício de um novo percurso de vida entre as outras espécies da fauna nacional.
O túnel de voo do CIARA tem características únicas onde se destaca a sua altura e inclinação que obriga as aves em recuperação a uma espécie de treino de musculação, o que as torna mais fortes para a sua função de voar.
“A altura do equipamento é um dos fatores a ter em conta, e atinge os 11 metros. Outros dos aspetos mais importantes é que o solo do túnel tem uma inclinação considerável o que faz com que as aves para alcançar as rochas mais altas têm de bater as asas para chegar aos alimentos ali colocados como se estivessem em ambiente natural”, explicou o médico veterinário Roberto Sargo.
A área do CIARA destinada à recuperação animal está interditada ao público para que os animais/aves em recuperação não se familiarizem com as pessoas para assim devolver estas espécies a natureza com o menor contacto com os humanos.
Andreia Gil indicou que a pessoa que encontrou a ave ou o animal é convidada para estar presente no ato simbólico da sua libertação que, por vezes, junta escolas e a população.
“Esta é uma forma de as pessoas perceberem que os animais que aqui são tratados são devolvidos à natureza. Convém dizer que não se trata de um centro biológico onde os animais possam ser visitados”, vincou a técnica.
Os animais são alimentados e monitorizados em permanência por câmaras de vigilância instaladas no túnel de voo, o que permite aos veterinários do centro acompanhar a evolução das aves para depois se decidir o momento da sua libertação.
“O convívio com os animais é o mínimo possível. Geralmente o que faço é colocar o alimento nos sítios certos com a orientação dos veterinários e faço a manutenção do túnel, mas sempre sem ter contacto com as aves em recuperação”, indicou Ruben Leal, técnico do CIARA.
O técnico frisou ainda que não se pode ter contactos com as aves ou outros animais, porque podem ficar familiarizados com o rosto dos tratadores, o que poderia dificultar a sua devolução ao meio natural.
Este equipamento de recuperação funciona em estreita colaboração com o Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que encaminha os animais para o CIARA.
As aves e outros animais chegam a este centro através do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA/GNR), do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) ou também são entregues por populares que os encontram feridos.
“Após a receção, as aves são avaliadas no seu estado de saúde, sendo feito o acompanhamento pelos veterinários do CIARA e, se esta estiver no estado mais debilitado, será encaminhada para o Hospital Veterinário da UTAD”, concretizou Andreia Gil.
Para além deste centro de voo, o CIARA está estado dotado de outros equipamentos de recuperação de animais selvagens, contando com uma enfermaria com raio X e outros equipamentos médico-veterinários.
O CIARA foi criado no âmbito das medidas compensatórias do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor (AHBS).
O equipamento desempenha um papel em termos científicos, tecnológicos e académicos, assumindo-se como um Centro de Estudos, em colaboração com a UTAD e o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), que desenvolvem uma intensa atividade científica no território.
Este centro é gerido pela Associação de Municípios do Baixo Sabor, que engloba os concelhos de Alfândega da Fé, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros e Torre de Moncorvo.
O CIARA tem igualmente uma paisagem interativa, esta aberta ao público e comunidade escolar, na qual os visitantes podem procurar rotas pedestres e pontos de interesse a visitar, com base em realidade virtual e aumentada, que está dotada de simulador de voo de realidade virtual que permite que os utilizadores se coloquem na pele de uma Águia-de-Boneli, de um Grifo ou de um Falcão Peregrino, e ainda um jogo interativo com uma lontra virtual, que tem o objetivo de consciencializar os visitantes para as consequências e o impacto da poluição no mundo animal.
FYP // JAP