Há o da Serra, o de Niza, o de Azeitão, o do Pico, o de Castelo Branco, o de Serpa, o de São Jorge, há para todos os gostos e isto só para falar dos nossos, que de fora também chegam outros bem apetitosos. São de ovelha, de cabra, de vaca e também não faltam os de mistura, que cada um oferece um sabor distinto e nenhum é de enjeitar logo à partida. São os queijos, esse alimento gordo que faz as delícias de tanta gente mas que, diz-nos o senso comum e alguma prática clínica, é preciso evitar para prevenir o aumento de peso, o risco de doença cardíaca e a diabetes.
Talvez esta má fama seja, afinal, um tanto ou quanto exagerada. Autor principal de um estudo que acompanhou 120 mil norte-americanos ao longo de décadas, o cardiologista Dariush Mozaffarian contraria todas estas ideias feitas. “Não existe quase nenhuma evidência de que o queijo engorda e, de facto, há evidência de que, na pior das hipóteses, é neutro; não há evidência de que o queijo esteja associado a doença cardiovascular e em alguns estudos é até ligeiramente associado a um menor risco; e quanto à diabetes, de novo, na pior das hipóteses, é neutro, e talvez preventivo”, afirmou esta semana, à revista Wired, o decano da Escola de Ciências e Políticas de Nutrição da Universidade Tufts, em Boston.
Os resultados do estudo que liderou, publicados em 2011 no jornal científico New England Journal of Medicine e agora citados pela prestigiada revista norte-americana, indicavam que a ingestão de queijo não entrava na equação das balanças, não tendo qualquer efeito no peso das pessoas, quer consumissem mais ou menos quantidade. É sabido que se trata de um alimento rico em gordura saturada, o que lhe deveria conferir a tal propensão para engordar, mas por alguma razão ainda desconhecida isso não se verifica.
Num artigo publicado mais recentemente, em setembro de 2019, no jornal Advances in Nutrition, da Sociedade Americana de Nutrição, Mozaffarian escreveu que “avanços na ciência da nutrição demonstraram que os alimentos representam matrizes complexas de nutrientes, minerais, compostos bioativos”, etc., e que por via dessa natureza geram “efeitos complexos na saúde e na doença”. É por essa razão que ele desvaloriza a presença de um nutriente específico num determinado alimento. Considera-a “uma abordagem redutora, inadequada para se fazer a transposição para doenças crónicas”. O mesmo é dizer que, por si só, a gordura saturada não implica que o queijo provoque um aumento de peso nem tão pouco faz dele uma ameaça à doença cardiovascular ou à diabetes. Pelo contrário, à luz da ciência, escreveu o especialista em nutrição, o consumo de queijo “está associado a um menor risco de doença cardiovascular” e a uma possível “proteção contra a diabetes do tipo 2”, sem que haja fortes evidências que favoreçam os produtos magros em detrimento dos gordos. Além da gordura, o queijo é também fonte de aminoácidos, cálcio, vitaminas e proteínas.
Isto não significa que pessoas com níveis de colesterol elevados ou intolerantes à lactose, por exemplo, não tenham de ter cuidados com o consumo de queijo, devido ao sal e ao açúcar (do leite) que surgem em maiores quantidades em certos tipos de queijo.
Em novembro passado, entretanto, um estudo realizado com 1787 britânicos, entre os 46 e os 77 anos, veio sugerir que este derivado do leite pode ter efeitos benéficos a nível do declínio cognitivo associado à idade. Analisados os hábitos alimentares dos participantes, o queijo foi, “de longe”, o alimento que se mostrou “mais protetor contra os problemas cognitivos relacionados com o envelhecimento”, escreveram os investigadores da Universidade de Iowa, num artigo publicado no Journal of Alzheimer’s Disease.