Uma petição pública virtual a exigir a expulsão de Portugal de Mamadou Ba ultrapassou esta quinta-feira, 18, as 25 mil assinaturas. Desde que foi criada na plataforma online petição pública, no último domingo, 14, o número de signatários tem crescido ao ritmo de cinco mil por dia. A iniciativa surge na sequência de declarações consideradas “caluniosas”, publicadas pelo dirigente da associação SOS Racismo e ex-assessor parlamentar do Bloco de Esquerda na rede social Twitter, sobre Marcelino da Mata, polémico militar português que serviu o país durante a Guerra Colonial e morreu, na passada quinta-feira, 11, aos 80 anos, no Hospital Amadora-Sintra, vítima de Covid-19.
No texto da petição, defende-se que as afirmações “contra o militar mais condecorado da História Portuguesa” não são as primeiras de Mamadou Ba “que colidem com os valores do cidadão comum”, o que tem contribuído, alega-se, “para fomentar o ódio e o mau estar entre as raças”. Por esse motivo, é pedido à Assembleia da República que “vote favoravelmente pela expulsão de Portugal de alguém que não se sente bem em Portugal nem com a nossa cultura e valores”, e que a mesma “sirva de exemplo”.
O ativista luso-senegalês, nascido há 47 anos no Senegal e a viver em Portugal desde 1997, insurgiu-se contra um voto de pesar proposto pelo CDS no parlamento. Em reação, Mamadou Ba chamou a Marcelino da Mata “figura sinistra”, “criminoso de guerra” e “sanguinário”, além de lhe ter atribuído a autoria da seguinte frase: “Nunca entreguei um turra (combatente independentista africano) à PIDE, cortava-lhes os tomates, enfiava-lhos na boca, e ficava ali a vê-los morrer.”
Marcelino da Mata nasceu na Guiné portuguesa e participou em quase 2500 missões ao serviço do exército colonial português, tendo sido condecorado pelo antigo regime, em 1969, com a Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a mais importante ordem honorífica de Portugal, concedida por “méritos excecionalmente distintos no exercício das funções dos cargos supremos dos órgãos de soberania ou no comando de tropas em campanha”, além de premiar “feitos excecionais de heroísmo militar ou cívico e actos ou serviços excecionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade”.
Para os que defenderam e lutaram pela independência da Guiné, no entanto, Marcelino da Mata é visto como um traidor. O comando português, que chegou à patente de Tenente-Coronel em 1994, década e meia depois de se reformar, foi impedido de entrar na terra natal após a declaração de independência face a Portugal, em 1973. Outros dos seus detratores alegam ainda que praticou crimes de guerra, ao não poupar sequer crianças, por exemplo, nas suas ações militares.
A sua morte fez ressurgir as duas visões antagónicas sobre o lugar que deve ocupar na História. O CDS já veio exigir a exclusão de Mamadou Ba do grupo de trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação, enquanto o Chega prometeu avançar com uma queixa na Procuradoria-Geral da República contra o ex-militante do Bloco de Esquerda, por ofensa grave a pessoa falecida, um crime com uma moldura penal até seis meses de prisão. No Twitter, Mamadou Ba acusou os dois partidos de estarem por trás da petição e de serem “os autores morais” se algo lhe acontecer, garantindo que, enquanto estiver vivo, ninguém o calará.