“O mundo tem de gastar milhares de milhões para salvar biliões”. Para Bill Gates, prevenir a próxima pandemia implica, necessariamente, um mega investimento global e deixou isso claro na carta anual que publicou esta quarta-feira.
Do plano do fundador da Microsoft faz parte um sistema de alerta global, testagem em massa, um aumento de profissionais capazes de responder de imediato e dezenas de milhares de milhões de dólares investidos anualmente. “Mega-plataformas de diagnóstico” capazes de testar 20% da população mundial todas as semanas” consumiriam parte desse valor mas nada comparado com o custo estimado da Covid-19.
“Para impedir que a dureza deste último ano se repita, a preparação para a pandemia tem de ser levada tão a sério como uma ameaça de guerra, escreve Bill Gates, que defende que não é demasiado cedo para começar a pensar nisso.
“Infelizmente, a Covid-19 não vai ser a última pandemia. Não sabemos quando a próxima vai atacar, ou será uma gripe, um coronavírus ou uma doença nova que nunca tenhamos visto. O que sabemos é que não podemos ser apanhados desprevenidos novamente. A ameaça da próxima pandemia vai estar sempre sobre as nossas cabeças – a não ser que o mundo aja para a impedir”, lê-se ainda na missiva, que assina com a mulher, Melinda Gates, sua parceira na fundação que ambos gerem.
Confiante em melhores tratamentos – “os anticorpos monoclonais não estavam disponíveis para tratar a Covid-19 até novembro, imaginem quantas vidas poderiam ter sido salvas se os tivéssemos meses antes” , Bill Gates prevê (é esta a palavra que usa) que haverá novas vacinas e que as vacinas à base de mRNA (como as da Pfizer e da Moderna) serão desenvolvidas mais rapidamente e serão mais fáceis de armazenar ao longo dos próximos cinco a dez anos.
O mundo precisa também de monitorizar constantemente agentes patogénicos potencialmente perigosos. “Precisamos de localizar surtos de doenças assim que comecem, onde quer que aconteçam”, defende, o que implicaria um sistema de alerta global a grande escala. E dá o exemplo: “Uma enfermeira numa clínica rural repara que estão a aparecer mais doentes com tosse do que é normal naquela altura do ano ou até que estão a morrer mais do que o normal”. Nesse caso, a enfermeira faria testes de diagnóstico dos patogénios comuns. Se nenhum desse positivo, o caminho seria enviar uma amostra para investigação.
Aqui entra um novo passo: se os testes revelassem um agente novo e/ou altamente infeccioso, entrariam em ação os “first responders”, um grupo de profissionais capazes de dar uma primeira resposta a uma situação de crise, uma espécie de “corpo de bombeiros da pandemia”, que seriam treinados em simulações à escala global. E quando não houvesse nenhuma pandemia, estariam a trabalhar em doenças como a malária ou a poliomielite. Seriam precisos, de acordo o plano de Gates, 3 mil profissionais, a nível global, nesta equipa.
“O mundo não estava preparado para a pandemia de Covid-19. Acho que na próxima vez vai ser diferente”, conclui.