É possível encontrar de tudo nas “caixas de comentários” de redes sociais, como o Facebook ou o Instagram – desde polémicas discussões a elogios, críticas, ou até utilizadores falsos que repetem as suas intervenções em várias publicações. Perante este cenário, um grupo de investigadores fez um estudo sobre a toxicidade destes comentários e o seu impacto em quem os lê.
Os quatro investigadores – Andrew Guess, Jin Woo Kim, Brenda Nyhan e Jason Reifler – recolheram comentários de mais de 11 mil publicações no Facebook, publicadas por 33 páginas de comunicação social diferentes, ao longo do mês de outubro de 2018. Posteriormente, pediram a uma empresa de sondagens para realizar um inquérito a 2200 pessoas nos EUA, de forma a obterem uma amostra representativa do país.
O objetivo do estudo era descobrir se as caixas de comentários das redes sociais desempenhavam algum tipo de papel na toxicidade das pessoas – tanto online, como no mundo físico. Reifler, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, disse à New Scientist que “quando observamos mau comportamento online, conseguimos fazer inferências sobre grupos maiores como um todo.”
Diferentes níveis de toxicidade
Ao longo do inquérito, foi pedido aos participantes que lessem uma amostra de um post do Facebook e que depois sugerissem um comentário apropriado para o mesmo. A equipa organizou estes comentários com a ajuda das ferramentas de inteligência artificial do Google, que são tipicamente utilizadas para avaliar o grau de toxicidade de mensagens online. Assim, estes comentários foram avaliados de 0 (nada tóxico) a 1 (extremamente tóxico) – uma frase como “devias ser esterilizada” conta como um 0.5, enquanto que “ela é uma prostituta sem valor” é um 0.99.
Posteriormente, a empresa de sondagens questionou os participantes sobre a frequência com que comentam publicações no Facebook. Enquanto que as pessoas que responderam que “nunca comentavam” somaram uma média de 0.18 pontos de toxicidade, aqueles que disseram que o faziam “mais de uma vez por dia” contaram 0.23 pontos.
No entanto, a equipa deixou a ressalva de que estes números podem ser uma subestimativa do valor real de toxicidade – por norma, as pessoas são mais bem-educadas a falar com os profissionais das sondagens do que numa caixa de comentários do Facebook. De acordo com os investigadores, a média de toxicidade nas respostas dos utilizadores no estudo foi de 0.19, enquanto que a média dos comentários reais na rede social é de 0.33.
Um algoritmo tóxico
Para além dos níveis de toxicidade dos comentários, a equipa também quis perceber quais são os efeitos da exposição aos mesmos pelas pessoas. Assim, foram apresentados a metade dos participantes publicações de Facebook sem comentários e, à outra metade, mostraram publicações com os comentários que o Facebook seleciona automaticamente através do seu algoritmo – que os investigadores dizem ser os mais tóxicos, com uma média de 0.9 pontos.
Perante os resultados desta segunda experiência, o estudo concluiu que, quanto maior a exposição das pessoas a estes comentários escolhidos pelo algoritmo do Facebook, maior era a propensão das pessoas para utilizar linguagem mais tóxica – subiu cerca de 0.33 pontos.
John Farkas, da Universidade de Malmo, na Suécia, criticou este algoritmo empregue pela maior rede social do mundo: “o Facebook tem consciência do impacto destes algoritmos há anos, mas recusa-se a mudá-los porque o seu modelo de negócio depende de maximizar o número de interações dos utilizadores.”
Por outro lado, um porta-voz do Facebook disse à New Scientist que os dados de 2018 “não refletem o nosso trabalho recente na área”, acrescentando que o conteúdo político corresponde a apenas 6% de toda a rede social e que 95% do discurso de ódio é prontamente removido antes de ser reportado.