Na terça-feira, o Prémio Nobel da Economia foi entregue aos economistas norte-americanos Paul Milgrom, 72 anos, e Robert Wilson, 83 anos, especialistas em leilões. O “Prémio do Banco da Suécia de Economia em Memória de Alfred Nobel” é-lhes atribuído por “melhorar a teoria dos leilões e inventar novos formatos de leilão”, disse o júri da Academia Sueca de Ciências.
Os dois economistas norte-americanos revolucionaram o estudo dos leilões. Mas que descobertas levaram à entrega deste prémio, que já galardoou economistas como Paul Samuelson, Friedrich Hayek ou Milton Friedman?
A importância dos leilões
Quando imaginamos um leilão, é possível que nos lembremos de um leilão de grandes obras de arte, ou de leilões tradicionais de gado, nas quintas. No entanto, os leilões também se podem traduzir na simples venda de alguma coisa na internet, ou na compra de uma casa através de uma agente imobiliário.
Hoje em dia, os leilões são importantes para o dia a dia de todos nós. Veja-se, por exemplo, os leilões de eletricidade, que determinam o preço de aquecimento das casas, ou os leilões das frequências de rádio, que influenciam o preço do nosso tarifário móvel. A nível governamental, todos os países recebem empréstimos através da venda de obrigações em leilões.
Ao longo do tempo, os leilões tornaram-se cada vez mais comuns – e complicados. O contributo dos vencedores Migron e Wilson passou pela análise do funcionamento dos leilões, pelo estudo do comportamento dos licitadores (os compradores nos leilões) e pela invenção de novos formatos de leilões para a venda de bens e serviços.
A maldição do vencedor
A maioria dos leilões tem “valores comuns” – a parte do valor de um bem que tem o mesmo valor para todos os licitadores. Por essa razão, o que distingue o valor da proposta final de cada licitador é a informação privada que cada um tem sobre o bem que está a ser leiloado.
Imaginemos o caso de um leilão de um diamante em bruto. A avaliação de cada licitador vai depender dos seus conhecimentos sobre diamantes, da sua experiência na área, ou do tempo que teve para avaliar o diamante – ou seja, as suas informações privadas.
Os licitadores em leilões com valores comuns correm sempre o risco dos outros participantes terem melhores informações privadas que eles. Isto leva ao fenómeno da “maldição do vencedor” – quando compram um bem por um valor que acham adequado, mas afinal está muito acima do que os outros licitadores estavam dispostos a dar por ele.
Ao longo dos anos 60 e 70, Wilson foi o primeiro economista a criar um modelo para a análise deste tipo de leilões e a descrever o comportamento dos licitadores nestas circunstâncias. Na sua pesquisa, concluiu que quanto maior for a incerteza na avaliação do valor de um bem, mais precavidos vão ser os licitadores. Por essa razão, o preço de licitação será mais baixo caso os licitadores não tenham informações privadas sobre o bem.
A importância da informação privada
O preço que o licitador oferece num leilão depende da conjugação dos seus valores privados e comuns – quando compra uma casa, vai ponderar os valores privados (a sua localização, o que acha das condições da casa ou da cor das paredes) e os valores comuns (o valor pelo qual poderá vender a casa no futuro).
A análise de leilões com valores privados e comuns revelou ser mais complexa do que as conclusões anteriormente expostas por Wilson. Em 1980, a investigação de Milgrom – o outro vencedor do Prémio Nobel – acrescentou descobertas importantes sobre os leilões, em particular sobre o seu formato e a “maldição do vencedor”.
A investigação do economista concluiu que quanto maior for o acesso a informações privadas sobre o bem à venda num leilão, mais alto será o preço oferecido pelos licitadores. Por essa razão, o vendedor terá sempre interesse em garantir que partilha com os licitadores o máximo de informação privada possível sobre o bem que está a vender.
No caso da venda de uma casa, o vendedor deve garantir que partilha com os potenciais licitadores uma avaliação independente de um especialista sobre o valor da mesma. Assim, o valor das licitações vai subir – e o vendedor conseguirá arrecadar mais dinheiro.
Novos formatos de leilões
O trabalho dos dois economistas norte-americanos não se limitou ao estudo da teoria dos leilões. Milgrom e Wilson também inventaram novos formatos de leilão para situações complexas, nomeadamente para leilões de frequências de rádio a operadores de telecomunicações.
Os leilões de frequências de rádio são particularmente complexos porque têm de conjugador dois fatores: a alocação eficiente de frequências de rádio num determinado território, enquanto garantem o máximo benefício possível para os contribuintes desse país.
Os economistas criaram um modelo que garantiu a redução dos problemas causados pela “maldição do vencedor” – um leilão que começa com preços baixos e permite licitações repetidas. O modelo foi implementado nos EUA em 1994 e posteriormente adotado por países como a Índia, o Canadá, a Alemanha, entre muitos outros.
Desde 1994, este formato, que também começou a ser utilizado para leilões de eletricidade ou de gás natural, tem sido otimizado por vários peritos em leilões. No entanto, foi o trabalho inicial de Milgrom e Wilson que permitiu esta revolução, que afeta o dia a dia de todos nós.