Ocorreu no fim de semana e é já considerado um fenómeno meteorológico completamente único. A chamada tempestade subtropical Alpha, que assolou a costa de Portugal – e também toda a Península Ibérica, varrendo igualmente vários lugares em Espanha – por estes dias é a primeira desde que há registos. Pelo menos é o que avançam organismos responsáveis pelo estudo do clima e da meteorologia em Espanha, informação entretanto confirmada pelo nosso Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Citado pelo El País, Juan Jesús González Alemán, investigador em dinâmica atmosférica, não tem dúvidas: “é um facto histórico.”
Foi logo que a tempestade se começou a aproximar da costa portuguesa que soaram os primeiros alarmes. Um pouco por todo o País, ocorreram rajadas de cerca de 100 quilómetros hora, com o centro do país a ser o mais afetado. Embora quem viu o areal de Carcavelos a ser engolido pela água não tenha tido dúvidas da força do fenómeno…
“Tratou-se de uma tempestade muito profunda e sobretudo rara para a época do ano e para as latitudes por onde passou”, acrescentou ainda Rubén Del Campo, porta-voz da agência espanhola de meteorologia.
Um híbrido aqui à nossa porta…
As tempestades tropicais são um tipo de ciclone que transportam ventos sustentados – ou seja, a velocidade média do vento num minuto – entre 60 e 120 quilómetros por hora. O passo seguinte, os furacões, ultrapassam os 120. Antes de todos eles, estão as depressões tropicais, que provocam ventos de menos de 60 quilómetros por hora. E então porque é que Alpha é considerada uma tempestade subtropical e não tropical? “Porque é um híbrido: tem as características das ocorrências do sistema tropical, mas ocorre numa latitude média”.
Depois de varrer boa parte do centro do País, seguiu para leste, assolando também várias regiões de Espanha e hoje, embora já mais debilitada, seguiu caminho para as ilhas britânicas.
…que obrigou os especialistas a recorrerem ao alfabeto grego
Mas não é só. A Alpha vai ainda constar de uma outra listagem. É que esta época de furacões está a ser tão ativa que a lista de nomes possíveis, pela ordem alfabeta, se esgotou e os especialistas tiveram de recorrer ao alfabeto grego. Desde que os furacões passaram a ter nome acontecera apenas uma vez, em 2005 – quando se alcançou Zeta e ainda se avançou mais quatro letras. Além disso, Alfa ultrapassou ainda Pablo, até agora o ciclone tropical mais oriental da história. Ou seja, o que se formou mais a leste e mais próximo da Europa. O recorde anterior pertencia ao furacão Vince, que no mesmo ano de 2005 também alcançou a península ibérica, mas já como depressão tropical.
Tudo somado, concordam os especialistas, parece haver um movimento crescente de fenómenos típicos da costa americana às portas da Europa. No ano passado, outros três fenómenos tropicais atingiram Portugal e Espanha, quando habitualmente isso apenas acontecia com um ou outro, e de forma espaçada no tempo.