Era uma vez um jovem príncipe de Liège, 32 anos, e uma baronesa belga, 25 anos. O futuro rei Alberto II e Sybille de Selys Longchamps conheceram-se em 1966, em Atenas, na Grécia, quando ambos já eram casados: ele, desde 1959, com Paola Ruffo di Calabria; ela com Jacques Boël, um nobre belga, sobrinho do banqueiro e industrial René Boël. Durante 18 anos, entre 1966 e 1984, mantiveram uma relação extraconjugal, da qual nasceu uma menina: Delphine. Como Sybille era casada com Jacques Boël, Delphine ficou com o apelido do seu pai legal. Entretanto, o pai biológico, que nunca assumiu a sua paternidade, tornou-se rei em agosto de 1993, após a morte do seu irmão mais velho, o rei Balduíno da Bélgica, e reinou durante duas décadas, até abdicar em 2013.
Contada assim, a história poderia ter começado e acabado sempre com um segredo bem guardado entre Alberto e Sybille. A questão é que, em 1999, a revelação foi feita e não foi nem por Sybille, nem pela ilegítima Delphine. Paula da Bélgica, nascida princesa Paola Ruffo di Calabria, mãe do atual monarca belga, Filipe, ao publicar a sua biografia, escrita pelo jornalista flamengo Mario Danneels, aborda a relação extraconjugal do marido nas décadas de 60 e 70 do século XX, revelando que dessa relação teria mesmo nascido uma filha. Uma situação que terá levado o casal a ponderar o divórcio, mas venceu a reconciliação nos anos 80. Também em 1999, no discurso de Natal, o rei Alberto II assumiu a crise pela qual o seu casamento terá passado e a existência de mais uma filha, a juntar-se aos três legítimos: Filipe, atual rei da Bélgica, o príncipe Laurent e a princesa Astrid.
Só depois de Alberto II abdicar do trono, perdendo a imunidade, Delphine Boël dá início a uma longa batalha jurídica, que já teve avanços positivos, mas que só a 29 de outubro poderá ter um desfecho. Primeiro, a artista plástica, hoje com 52 anos, quis ser reconhecida como filha e depois quis obrigar o ex-monarca a fazer um teste de paternidade. Há três anos, a justiça impôs ao ex-rei uma multa de cinco mil euros diários, enquanto se recusasse a fazer o teste de ADN. Alberto acabou por ceder e com o teste veio a confirmação da ligação biológica com Delphine. Um “alívio” para Boël, cuja vida tinha sido até à altura um longo pesadelo por causa dessa busca pela identidade, confessava ao canal de televisão alemão RTL.
Na última audiência no tribunal de recurso de Bruxelas, o debate centrou-se no nome que a filha ilegítima do ex-monarca vai usar e se terá ou não direito ao título de princesa. “A posição de Delphine não é querer ou não ser princesa. Ela quer ter exatamente os mesmos privilégios, títulos e capacidades dos irmãos e da irmã”, disse o advogado Marc Uyttendaele citado pela BBC. Terá Delphine a pretensão de ser apenas princesa ou mesmo de chegar a rainha? Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.