Pouco depois da Praça Condes de Barcelona, onde há 20 anos o então rei Juan Carlos inaugurou uma estátua dedicada à memória dos seus pais, surge a placa Vila Giralda. Estamos mais ou menos a meio da Rua de Inglaterra, num bairro seleto do Monte Estoril, e foi ali que a família real espanhola se instalou em meados da década de 40. E isso foi, várias vezes, motivo suficiente para um desvio, sempre que a empresa turística Sweet Tours andava pelas redondezas com clientela espanhola.
“Não é um lugar que faça oficialmente parte dos nossos roteiros, mas quando estávamos por perto, acabávamos por passar aqui”, conta o guia turístico Tiago Afonso, responsável daquela pequena empresa familiar. Depois, seguiam-se as fotos com a casa em fundo, tipo postal ilustrado. “Quantas vezes não aproveitavam até para passar a grade, se estivesse aberta e deixarem-se fotografar lá dentro”, acrescenta, sabendo que a moradia até já tem novos donos, uns alemães que nunca comentaram qualquer daquelas visitas – mas também não alteraram a designação do domicílio. “Ao que se sabe, não podem fazê-lo: o nome é considerado património municipal”.
Mas não se julgue que é a única ligação de Cascais àquele que é hoje conhecido como rei emérito e que explica todo um alarido em volta do destino, ainda desconhecido, do exílio de Juan Carlos. Segundo a imprensa espanhola, o rei emérito terá feito efetivamente uma breve passagem por Portugal, depois de deixar o seu país – mas para apanhar um avião rumo à República Dominicana.
Convite sem resposta
“Acho que pode não vir já, mas vai acabar por fazê-lo”, acredita o mesmo guia turístico, a recordar um convite que a autarquia fez a Juan Carlos, pouco depois da sua saída de cena, em 2014, quando abdicou a favor do filho. “Tudo o que se tem passado prejudicou muito a sua imagem, mas estou convicto que acabará por vir para a Casa de Santa Maria”, segue Tiago Afonso, a referir-se ao edifício desenhado pelo arquiteto Raul Lino, no início de 1900 e com vista para a marina de Cascais, que Carlos Carreiras então ofereceu como destino para o rei emérito. “Se quiser voltar, será recebido de braços abertos”, disse o autarca.
Só que o convite nunca teve resposta – e agora o mesmo município garante que o assunto já não passa por ali, deixando no ar que será caso de um pelouro mais alto. Mas apesar de Marcelo Rebelo de Sousa ter ido a Madrid encontrar-se com o rei Felipe VI há duas semanas, foi, segundo a agenda então divulgada, “um almoço reservado”. E agora a mesma presidência não faz mais nenhum comentário sobre o tema.