Há praticamente dois meses que escolas, universidades, empresas, escritórios, hotéis, restaurantes e ginásios estão encerrados. No entanto, o levantamento progressivo dos bloqueios previsto para alguns destes estabelecimentos está nesta altura a preocupar os especialistas internacionais em sistemas de canalização de edifícios que alertam para uma possível crise de saúde secundária. Na origem poderá estar uma contaminação bacteriana das águas que durante o período de isolamento social ficaram estagnadas nos sistemas de canalização dos edifícios encerrados ao público.
Os investigadores prevêem que a acumulação de metais pesados e a proliferação de bactérias e parasitas na água pode representar agora um risco acrescido para a saúde pública. Uma das principais preocupações é a Legionela – uma bactéria presente em águas estagnadas que é capaz de causar pneumonia. Nesta altura, os especialistas estão já a estudar formas de minimizar os riscos, no entanto, garantem que as atuais orientações sobre a reabertura dos estabelecimentos não estão adequadas a questões desta natureza. Por isso, alertam a administração destes edifícios para tomarem medidas preventivas a aplicar antes da abertura ao público.
Para um período de estagnação semelhante ao que vivemos até agora, os especialistas aconselham que os estabelecimentos ponham em marcha um plano de desinfeção dos sistemas de canalizações dos edifícios. No entanto, temem que os custos elevados destes procedimentos não sejam facilmente suportados pelas empresas. Neste sentido, lançaram um conjunto mais simples de recomendações como análises à qualidade da água a partir de testes de baixo custo e manobras de libertação do fluxo acumulado nas canalizações, através da abertura (em fluxo máximo) de todas as torneiras durante um período de tempo entre 5 e 10 minutos, repetindo o procedimento várias vezes.
Neste momento, vários laboratórios, universidades e empresas de todo o mundo estão empenhados a estudar soluções para minimizar o possível perigo que a água estagnada nos sistemas de canalização pode representar para a saúde. À revista científica Nature uma microbiologista ambiental da Universidade do Estado de Michigan, nos EUA, avança que vê esta como uma oportunidade única para estudar a fundo os sistemas de água e garantir que a sociedade está melhor preparada para futuros cenários de calamidade. “Estamos num momento extraordinário.” “Devemos fazer todos os esforços para aprendermos o máximo que pudermos com esta situação”, rematou.