A velocidade de contágio do novo coronavírus, associada à idade avançada dos utentes das instituições de apoio ao idoso, fazem destes espaços realidades preocupantes que registam, a cada dia que passa, um maior número de casos positivos e mortes por Covid-19. Dados revelados esta semana pela diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, mostram a dimensão deste problema: cerca de um terço das mortes registadas até terça-feira ocorreu nestas instituições.
Face a esta situação, e após o pedido de ajuda de um lar de terceira idade, no Norte do país, Rita Almeida e Brito, estudante do quarto ano de enfermagem, começou a organizar uma equipa de voluntários, logo em finais de março, semanas antes de o Governo ter lançado a campanha Cuida de Todos. Rapidamente se apercebeu que a situação exigia uma preparação estruturada, tanto dos voluntários como das instituições que os recebem. “Pareceu-me evidente que teria de haver uma resposta a nível nacional. Além de haver muitas instituições a pedir ajuda, havia mesmo muita gente disponível e pronta para se voluntariar”, conta Rita. O desafio era pensar como ligar instituições e voluntários. Em parceria com uma estudante de medicina, uma psicóloga na área do envelhecimento e duas especialistas em comunicação, Rita criou o Portugal COmVIDas. “A nossa missão é compor equipas de voluntários que possamos alocar ao sítio certo, ou seja, queremos que cada lar receba a equipa mais capacitada para as necessidades que apresenta”.
A plataforma online do projeto recebe inscrições tanto de lares que precisem de ajuda como de voluntários, entre 18 e 50 anos, que queiram partir em missões de um mês (15 dias no terreno e 15 dias em isolamento) ou colaborar em atividades logísticas como o transporte de materiais e alimentos. Cada lar deve preencher uma ficha de identificação das necessidades que tem (número de voluntários necessários, tipo de tarefas, alimentos ou materiais em falta) e do tipo de apoio que dá aos voluntários (articulação com a Câmara Municipal, disponibilização de equipamentos de proteção, existência de alojamento).
Quanto aos voluntários, após a inscrição, têm uma reunião por videoconferência, na qual recebem formação psicológica e formação técnica sobre cuidados de saúde, além de serem alertados para todos os riscos que correm. “Tentamos ser o mais transparentes possível”, conta a psicóloga na área do envelhecimento Filipa Paiva Couceiro. “Falamos com as entidades a fim de perceber a situação existente em cada lar. Desta forma preparamos bem as pessoas para o que vão encontrar”. As implicações, responsabilidade e consequências deste tipo de trabalho voluntário são muito diferentes daquelas que até há dois meses eram associadas ao voluntariado. Filipa explica que após a primeira formação as pessoas são deixadas à vontade para discernirem se querem continuar ou abandonar o projeto.
Ao longo do mês que dura cada missão, os voluntários são acompanhados diariamente por uma equipa de psicólogos. “Aqui não se trata de fazer companhia a pessoas ou ajudar de vez em quando. O trabalho reveste-se de uma grande dureza, por isso o acompanhamento diário da fragilidade que estes voluntários vão encontrar é essencial”, conclui Filipa.
Não estamos ali para curar a doença, mas sim para cuidar de cada um enquanto pessoa
Filipa paiva couceiro – psicóloga na área do envelhecimento
Portugal COmVIDas procura, acima de tudo, garantir o bem estar e a dignidade humana dos utentes dos lares, sem impor alterações de rotinas ou ritmos na vida a idosos para quem estas são de extrema importância. “Não estamos ali para curar a doença, mas sim para cuidar de cada um enquanto pessoa”, afirma Filipa Paiva Couceiro.
Até agora, a associação tem cinco lares inscritos e 150 voluntários. Dezasseis já partiram para o terreno e os restantes estão em formação ou a ajudar no transporte de materiais e alimentos. Rita Almeida e Brito assegura também que é possível partir para o terreno, conciliando o tempo de voluntariado com algumas horas para estudar ou trabalhar. Basta indicar esta necessidade no momento da inscrição.
Filipa Paiva Couceiro louva e agradece a motivação das centenas de pessoas que se estão a voluntariar para ajudar em plena crise.“Penso que seja algo que se faz por um amor à Humanidade que, graças a Deus, a pandemia ainda não fechou em casa.”
Penso que seja algo que se faz por um amor à Humanidade que, graças a Deus, a pandemia ainda não fechou em casa
FILIPA PAIVA COUCEIRO – PSICÓLOGA NA ÁREA DO ENVELHECIMENTO