O cigarro eletrónico, que surgiu como uma alternativa para quem quer deixar de fumar ou reduzir o consumo, é “um dispositivo operado por uma bateria que produz um aerossol (vapor), que normalmente contém nicotina, solventes, aromas e outros aditivos”, na descrição Direção Geral da Saúde (DGS). Os cigarros eletrónicos não contêm tabaco (e nem todos têm sequer nicotina), o que os distingue dos cigarros convencionais e dos cigarros de tabaco aquecido.
Num artigo publicado na Radiology, a publicação da Sociedade americana de Radiologia, cientistas do Southwestern Medical Center da Universidade do Texas, em Dallas, apresentaram os resultados dos exames realizados a 14 adolescentes que deixam claros os danos nos pulmões, provocados pelo vaping. Estes exames ajudam a diagnosticar precocemente a doença relacionada com o uso de cigarros eletrónicos recentemente batizada como Evali, pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA. O número de mortes nos EUA já chega quase a 70, a somar aos 2807 doentes hospitalizados, dos quais 15% são menores de 18 anos.
Os investigadores utilizaram radiografias ao tórax e tomografias computadorizadas para examinar os 14 adolescentes – sete rapazes e sete raparigas – com idades entre os 13 e os 18 anos. A coordenadora do estudo, Maddy Artunduaga, professora de radiologia pediátrica no Southwestern Medical Center da Universidade do Texas, confirma que “esta faixa etária é particularmente vulnerável ao uso de cigarros eletrónicos e as suas consequências são potencialmente mortais”.
Neste estudo, todos os jovens já tinham utilizado cigarros eletrónicos ou experimentaram dabbing – ato de inalar pequenas quantidades de medicamentos concentrados, nomeadamente óleo ou resina de canábis – 90 dias antes do exame. Os doentes tinham históricos diferentes de utilização de produtos de vaping: quatro consumiram THC ( tetraidrocanabinol) – substância presente na planta canábis – e nicotina; nove apenas vapeavam com THC e um apenas com nicotina.
Os adolescentes apresentavam sintomas respiratórios, dor no peito e falta de ar. Doze pacientes tiveram vómitos, diarreia e dor abdominal. Febre, calafrios, perda de peso e fadiga foram outros sintomas. Todos os exames mostravam lesões significativas.
Uma análise da Universidade de Michingan concluiu que o número de jovens americanos que começaram a utilizar cigarros eletrónicos antes dos 14 anos triplicou desde 2015 – em 2014 eram 9%, em 2019 representavam 28% dos consumidores.
Segundo o último boletim do CDC, foi encontrada vitamina E (acetato de racealfatocoferol) – um aditivo presente nos produtos de cigarros eletrónicos – nas amostras de líquido pulmonar de doentes que utilizaram cigarros eletrónicos.
Apesar de ainda não existirem dados sobre o impacto do vaping em Portugal, a DGS desaconselha ” o uso de cigarros eletrónicos, particularmente os que têm líquidos contendo canabidiol e outros derivados de canábis, acetato de vitamina E e diacetil ” e indica que os consumidores ” devem estar atentos e procurar um médico imediatamente se desenvolverem os seguintes sintomas: tosse, falta de ar, dor no peito, febre, calafrios, náuseas, vómitos, dor abdominal ou diarreia “.