Aquilo que se julgava ser um arco fino de gases e poeiras acabou por se revelar uma estrutura de uma tal dimensão que acaba de inaugurar um novo paradigma no estudo do céu. Afinal, o que está ali mesmo ao lado do Sol – como quem diz, a 500 anos-luz – é uma vasta nuvem, composta de muitos viveiros ligados entre si, onde nascem as estrelas como as conhecemos. Tem as medidas finas de 9 mil anos-luz de comprimento e 400 anos-luz de largura e já foi apresentada ao mundo, na revista Nature.
“É só a maior estrutura de gás coerente que conhecemos na galáxia”, descreve à VISÃO João Alves, 51 anos, astrofísico e vice-reitor da Universidade de Viena, na Áustria, o principal autor do estudo, a assumir que foi uma enorme surpresa encontrá-la, até porque a descoberta conduz a um novo paradigma, a uma nova linha de estudo.
“ A Terra cruzou esta estrutura há cerca de 13 milhões de anos e é provável que a sua influência no nosso planeta tenha sido maior do que estimamos. Estrelas massivas explodem como supernovas que enriquecem não só o meio interestelar com novos elementos como o Ferro 60 mas também, se estiverem perto, planetas como a Terra.” explica João Alves. “Sabemos que vamos voltar a cruzar a onda daqui a 10 a 15 milhões de anos, é possível que volte a ter impacto no nosso planeta”, sublinha ainda aquele investigador
Os dados foram recolhidos pelo novíssimo telescópio espacial Gaia, lançado em 2013 pela Agência Espacial Europeia (ESA), com a intenção de medir a posição, distância e movimento das estrelas na nossa galáxia com uma maior precisão. Desde o início que as expetativas eram muito altas. Ou seja, esperava-se que fizesse o mais alargado catálogo sobre as estrelas e preenchesse algumas falhas no nosso conhecimento da Via Láctea. “O que encontrámos é muito maior do que alguma vez supusemos”
Descrito pela primeira vez em 1879, acreditava-se que o então anunciado Cinturão de Gould era composto por regiões várias onde se formavam estrelas, acreditando-se que eram orientadas em redor do sol numa espécie de anel – e é essa visão anterior daquela região da Via Láctea que estes resultados vieram agora corrigir.
“Chamámos-lhe Onda de Radcliffe numa homenagem muito especial”, remata João Alves, que quis pôr na história um pequeno, mas esquecido, grupo de mulheres contratadas em 1900 pelo instituto de estudos avançados da Universidade de Harvard, que tinha aquele nome. “A sua função era processar, à mão, os dados recolhidos pela astrofísica de então. Um trabalho pesado, quase invisível, mas também imprescindível para as grandes descobertas do século passado.”
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