O anúncio está a passar na rádio e promete todo um maravilhoso mundo novo – bom, pelos menos para os donos de animais domésticos, a quem custa sempre deixá-los em casa quando é hora de ir trabalhar. O projeto de que se fala chama-se Pets At Work e os benefícios que promete vão para lá do bem-estar do animal e do dono. Ou seja, as mais-valias são também para a empresa: desde menos stress no trabalho a uma melhor imagem da companhia perante o mercado.
Essa é a convicção de um número crescente de pessoas – no País e no mundo. Em dezembro, a FIL, que é a entidade organizadora do Pet Festival, resolveu fazer a experiência por um dia, desafiando os seus funcionários a levarem os animais de estimação. Ao todo, juntaram 15 animais, sobretudo cães, mas também uma tartaruga e um furão. Mas há mais quem esteja a pôr a experiência em prática todos os dias, e há mais tempo do que se poderia pensar.
É esse o caso da Purina, que vende rações para animais e se apresenta como dog friendly todos os dias desde Janeiro de 2016 – uma política que alastrou a todo o edifício da Nestlé, onde aquela marca está instalada, desde o início de 2018.
As regras, claro, estão muito bem definidas: um calendário semanal gigante avisa quem leva os animais e em que dia; há ainda um alerta de que os bichos só podem usar os elevadores de carga e a indicação de que algumas áreas lhes estão vedadas.
Mas ali houve um efeito inesperado: uma das funcionárias confessou que só se decidiu a adotar um animal por causa da política da empresa.
Mais recentemente, foi a agência de marketing comOn que deu luz verde aos seus colaboradores para levarem os companheiros de quatro patas sempre que quisessem – afinal, já era uma prática recorrente, só não tinha sido formalizada.
Os resultados, segundo um estudo encomendado por aquela marca de ração, confirmam uma série de benefícios. A saber: entre os portugueses que são tutores de um cão (ou mais…), 67% gostaria de poder levar o seu bicho para o local de trabalho. A principal razão que apresentam é, claro, a possibilidade de reduzir o sentimento de culpa associado a deixar o animal sozinho em casa (62%). Além disso, acreditam que ajuda a criar um ambiente de trabalho mais relaxado (46%) e a reduzir o stress (45%).
Já para a empresa há outras mais-valias: a política é vista tanto como um benefício como um privilégio; aumenta a atração e retenção de talento; é uma medida inovadora e focada no que os funcionários querem; cria uma atmosfera inclusiva; faz a diferença em relação a outras empresas e, com tudo isto, melhora o desempenho.
O exemplo americano
Em 2017, um artigo na Scientific American contava que a tendência era cada vez mais comum, sobretudo em empresas menores da cidade de Nova Iorque. Contava a revista, então, que só naquela cidade americana o Linkedin apresentava 178 resultados para empregos “dog friendly”. E que outras grandes empresas, como a Google, o Mashable e a Amazon, também já tinham adotado esta política.
Os benefícios disto tudo, amplamente divulgados, são os mesmos – ajudar a reduzir o stress e aumentar a comunicação e socialização. E não é muito difícil aceitar que seja assim, sobretudo depois de toda a investigação que tem sido feita sobre o impacto que os animais de estimação têm, tanto sobre as crianças em terapia como em casos de depressão na população mais velha.
Uma outra análise, dizia a Scientific American, feita em 31 empresas no Kentucky, aventava ainda que levar animais de estimação para o trabalho permitia aos seus proprietários expressar um pouco da sua personalidade. Quando interrogados, os donos dos bichos reportaram mais uma vez o alívio do stresse e o ganho de ter um local de trabalho mais amigável. Um outro estudo, citado pela referida publicação, garante que essa política encorajou os funcionários a serem mais cooperantes, comunicativos e amigáveis do que em grupos onde não havia cães como companhia.
A redação da VISÃO teve, recentemente, o seu próprio dia de “traga o animal de estimação para o trabalho”.