Arriscamos dizer que a maioria das pessoas concorda que preferia “morrer a dormir”. Já se falarmos sobre como queriam que fosse o seu funeral, as opções multiplicam-se. Mas também estamos confiantes de que todos preferem que seja uma celebração o menos taciturna possível.
Esta foi uma das conclusões de um grande inquérito feito, no Reino Unido, no ano passado, com a intenção de quebrar tabus sobre a morte. A Co-op Funeralcare, a maior agência funerária do Reino Unido (organiza quase 100 mil funerais todos os anos, numa indústria avaliada em €2,29 mil milhões, naquele país), interrogou 30 mil britânicos – e 41% querem que o seu funeral seja uma celebração da vida e não uma ocasião triste. Outros 20% pedem aos familiares para usarem cores vivas em vez do preto tradicional. Estas tendências foram reveladas em janeiro, quando normalmente há 30% mais mortes registadas na segunda semana do que em qualquer outra semana do ano.
Não é de estranhar, por isso, que os funerais tradicionais estejam a perder terreno para cerimónias que podem conter pedidos insólitos, invulgares ou, no mínimo, diferentes.
Dar um cunho cada vez mais pessoal ao funeral, de acordo com os gostos de quem morreu, é o mais comum, e isso, de acordo com a Co-op Funeralcare (citada pelo jornal The Guardian), poderá passar por carros alternativos, como Land Rovers adaptados ou outros veículos em tons de arco-íris; uma despedida natalícia, com familiares e amigos com casacos de Pai Natal, em pleno verão escaldante; passar o cortejo por uma cadeia de fast food, porque o adolescente falecido era fã de hambúrgueres, e terminar o velório no restaurante; agentes funerários com narizes vermelhos de palhaço, porque o morto tinha levado uma vida ligada à magia e à animação infantil. Outros serviços fúnebres alternativos já incluíram o diretor da funerária vestido de He-Man e os convidados de Elvis Presley, Capuchinho Vermelho e Tartaruga Ninja.
Por cá, o universo da fantasia ainda não chegou aos funerais, mas também há pedidos estranhos, que na verdade são soluções inovadoras apresentadas pelas agências funerárias, como explica Paulo Moniz Carreira, diretor-geral de negócios da Servilusa.
Na hora da morte, há muito mais detalhes para escolher, que vão além do tipo de madeira da urna (do pinho ao mogno), a sepultura, o jazigo ou a cremação, as flores, o livro de condolências, o carro ou a música.
Levar o cortejo fúnebre a passar por lugares simbólicos para o morto, seja a casa de família, um estádio de futebol ou uma praça de touros, é cada vez mais comum. Mas, sendo Portugal um país costeiro, há cada vez mais pedidos para que as cinzas sejam deitadas ao mar. E de um modo ecológico: a Servilusa, responsável por mais de seis mil dos cerca de 112 mil funerais realizados o ano passado em Portugal Continental, num mercado que vale €350 milhões, usa uma urna biodegradável, que se desfaz na água, e leva os familiares de barco para dar seguimento à cerimónia. Há quem prefira plantar uma árvore, e para tal têm uma urna de cinzas com um depósito de terra e uma pequena árvore. Servirá para plantar no jardim ou, muitas vezes, para os falecidos regressarem à terra natal.
No que diz respeito às viaturas, em Portugal também já há soluções “fora da caixa”, como a limusina branca ou uma moto com sidecar, em que o caixão vai mesmo no lugar do pendura. Nestes casos, tanto acontece ser um motard que morreu num acidente de moto como uma pessoa que em vida queria muito ter experimentado andar de mota, mas nunca o fez.
Também há originalidades com as flores, sempre associadas a um forte simbolismo: é possível pegar na rosa ou na orquídea que esteve junto à pessoa que morreu e dar-lhe um banho de prata, ficando guardada e eternizada numa redoma de acrílico. Em vez de uma coroa tradicional, também há quem mande fazer uma coroa com 16 pequenos vasos com plantas, que no final do funeral serão oferecidos pela família a alguns dos convidados. Já a medalha de prata, em forma de coração ou de trevo, com a impressão digital de quem morreu, é outra das recordações com muita saída em Portugal. Na hora da morte, ainda não somos tão liberais nos costumes como os britânicos. Mas é certinho como a morte que para lá caminhamos.