Além de mostrar as fotografias das férias ou das mais deliciosas refeições dos utilizadores, o Instagram também é uma plataforma permeável ao tráfico de substâncias ilícitas. Nas últimas semanas, a empresa – detida pelo Facebook – decidiu tomar medidas no sentido de contrariar os seus próprios algoritmos, que direcionam conteúdos relacionados com drogas para utilizadores que mostrem interesse no seu consumo ou na sua compra.
Hashtags com os nomes de substâncias como #oxy, #adderall, #cocaína ou #heroína escondem milhares de publicações de pessoas que lutam contra a adição, mas também de quem se vangloria do seu consumo e de quem promove a sua venda ilegal.
Basta ao utilizador seguir a conta de um traficante para que o algoritmo do Instagram perceba que esse é um assunto que lhe interessa e comece a funcionar de acordo com a forma como foi programado, ou seja, dando prioridade às publicações sobre o tema. Assim, poderá facilmente sugerir as páginas de outros dealers ou hashtags relacionadas com o consumo de drogas.
O Facebook e o Twitter também enfrentam o mesmo problema e, no início deste mês, assumiram o compromisso de lutarem contra a venda ilegal de opiáceos e de outras drogas nas suas redes.
Em abril deste ano, a agência norte-americana responsável pelos medicamentos, a FDA, acusou as empresas tecnológicas de “não tomarem ações práticas para detetar e remover as partilhas relacionadas com o tráfico ilegal de opiáceos”. A FDA considerou a prevalência de publicações sobre estas substâncias nas redes sociais como um dos fatores responsáveis pelo seu elevado consumo nos Estados Unidos da América (EUA) que, no ano passado, matou mais de 40 mil pessoas no país. A agência norte-americana considera o problema um exemplo da forma como as tecnológicas subestimam o poder dos seus softwares.
Os algoritmos das redes sociais disseminam o conteúdo que desperte o interesse dos utilizadores, independentemente de estar relacionado com o tráfico de substâncias ilícitas ou de promover o discurso de ódio. Neste caso, o algoritmo faz chegar conteúdos sobre drogas aos utilizadores que demonstram interesse no assunto e que, provavelmente, são mais vulneráveis ao seu consumo.
À procura de soluções digitais
O Instagram anunciou recentemente o bloqueio de algumas hastags problemáticas e o lançamento de ferramentas que ajudem a direcionar os utilizadores para instituições de combate à toxicodependência.
O Facebook segue uma estratégia semelhante, bloqueando termos de pesquisa relacionados com drogas e criando parcerias com especialistas no tema.
O problema de bloquear hashtags como #percocet, #cocaína ou #heroína é, ao mesmo tempo que se proíbe o conteúdo ilícito, limitar os termos que as pessoas podem utilizar para procurarem ajuda e combaterem a sua dependência.
Além disso, os traficantes contrariam facilmente a medida ao alterarem os nomes das drogas ou simplesmente fotografando a informação em vez de a escrever.
Este mês, o Instagram também passou a mostrar notificações aos utilizadores que pesquisam por opiáceos, medicamentos sujeitos a receita médica ou drogas ilegais. As notificações têm contatos de instituições que oferecem ajuda grátis e confidencial e informação sobre o consumo destas substâncias. O Facebook dispõe de um sistema semelhante que é ativado quando os utilizadores procuram temas relacionados com o consumo de drogas.
O método dos traficantes
Se as empresas tecnológicas não conseguirem mitigar o problema sozinhas, discute-se, nos EUA, se deverão estar sujeitas a uma maior regulamentação. Uma das possibilidades é serem responsabilizadas pelo tráfico de substâncias ocorrido na rede.
A associação norte-americana Alliance for Safe Online Pharmacies, que promove o comércio legal de medicamentos online, considera o Instagram uma poderosa plataforma para o tráfico. A sua elevada penetração junto dos jovens, a ênfase nas imagens, a personalização do conteúdo e a possibilidade de manter contas anónimas são alguns dos fatores de risco identificados pela organização.
Uma start-up nova-iorquina, a GiPEC, anunciou ter desenvolvido um software capaz de detetar atividades ilegais nas redes sociais antes de as publicações se disseminarem. O seu fundador, Eric Feinberg, está ansioso por comercializar o software, mas ainda não recebeu qualquer proposta.
Os traficantes seguem, habitualmente, o mesmo modus operandi: publicam fotos das substâncias, associam-lhes hashtags relacionadas com drogas e escrevem as instruções para os interessados entrarem em contacto via email ou serviços de mensagens encriptadas, mas não através do Instagram, já que as mensagens trocadas através da rede social seriam mais facilmente detetáveis.
A vice-presidente responsável pelas soluções de marketing globais do Facebook, Carolyn Everson, afirmou ao jornal The Washington Post que a empresa está a desenvolver ferramentas de inteligência artificial capazes de detetar conteúdo ilícito. O sistema deverá ser semelhante ao software criado para identificar publicações de radicais ligados ao Estado Islâmico ainda antes de serem vistas por outros utilizadores.
O novo software, adaptado ao Instagram, deverá ser capaz de sinalizar fotografias com drogas e números de telefone ou pedidos de contacto através de redes encriptadas. Tudo para contrariar o algoritmo.