A nova versão do Glorius já está a ser projetada, mas o chocolateiro Daniel Gomes pouco revela sobre o upgrade do bombom mais caro do mundo. Para o original, criado há três anos, Daniel, 34 anos, escolheu as iguarias mais valiosas do mundo, como filamentos de açafrão, trufa branca francesa, baunilha de Madagáscar e óleo de trufa, a que juntou flocos de ouro de 23 quilates. O custo de todos os ingredientes chegou aos €7 728, valor de venda ao público de cada bombom.
A soma inclui a tampa com 550 cristais Swarovski, a fita de ouro e a pinça gravada a ouro com o nome do cliente. Das mil unidades da primeira edição, o mestre chocolateiro de Leiria já vendeu cerca de metade para clientes nos Emirados Árabes Unidos, Rússia, Colômbia e Angola. Agora, vai fugir um pouco às especiarias, mas manter o ouro (20 folhas de ouro custam cerca de €55), uma pequena extravagância. São cada vez mais as ementas de todo o mundo a oferecer pratos polvilhados, recheados ou adornados com ouro. Se antes era luxo de prato gourmet, agora vemos a moda a pegar na fast-food – sanduíches, hambúrgueres, asas de frango, pizzas, gelados, cupcakes, tacos, sushi ou simples cappuccinos –, o ouro está por todo o lado. “Já se fazia no tempo da Cleópatra como sinal de ostentação de riqueza”, analisa Virgílio Gomes. Para o investigador em História da Alimentação, tudo isso não passa de puro marketing. “Acho um retrocesso civilizacional. É caro, não acrescenta nada, não tem sabor nenhum e é só para dizer que se engoliu ouro.”
Ao serviço do prato
No restaurante The Ainsworth, em Nova Iorque, servem-se asas de frango com pó de ouro (€38 a €77); no South of Houston, em Haia, na Holanda, o chefe Diego Buik inventou o hambúrguer mais caro do mundo (€1 900) que, além do ouro, leva carne wagyu, black angus, lagosta, caviar, foie gras e trufa branca; na pizzaria Fabián Martín, em Girona, em Espanha, a pizza de ouro comestível ganhou o concurso internacional World Gourmet Pizza; no Manila Social Club, em Brooklyn, Nova Iorque, o chefe filipino Björn DelaCruz preparou um donut dourado (€91); os pasteleiros da Bloomsbury’s, no Dubai, criaram o cupcake Golden Phoenix (€866), com chocolate italiano, folha de ouro, morangos mergulhados em ouro e pó de ouro; na geladaria californiana Snowopolis cada cone é pulverizado com ouro de 24 quilates, recheado com sorvete de baunilha e servido com folhas douradas (€12)… E os exemplos continuam.
Por cá, o chefe Paulo Morais, do restaurante lisboeta Kanazawa, tem pequenos apontamentos de ouro nos seus pratos asiáticos, como no yakimono, com encharéu curado em koji, cogumelos Pleurotus, pickles de cereja do Fundão e ovo de codorniz com folha de ouro. Para o chefe José Avillez (duas estrelas Michelin), que já usa folha de ouro há uma década, a sua aplicação só faz sentido se for contextualizada. “Na nossa cozinha, esta aplicação está ao serviço do prato, não a usamos por usar ou para a exibir”, garante. Tanto no snack Ferrero Rocher de foie gras, na ementa do Belcanto desde 2011 (€6,90 por duas unidades), como no prato Horta da Galinha dos Ovos de Ouro (€35 à carta), que consiste em ovo cozinhado a baixa temperatura, envolto em folha de ouro sobre pão crocante e cogumelos, o metal precioso fez parte da receita logo desde o início. “É um elemento visual que complementa o conceito”, conclui.