As fraudes na internet são tão antigas como a própria World Wide Web. Algumas são mais elaboradas do que outras, mas a finalidade é sempre a mesma: enganar alguém, para outro alguém ganhar dinheiro com isso. Fraude. Nada mais do que isso.
Uma das mais conhecidas são as da “Cartas da Nigéria”, já têm muitos anos, mas continuam a existir e a fazer vítimas. O esquema é feito através de um email onde se pede ajuda para resolver uma situação urgente – como a morte de uma familiar – e que, para isso, precisa da sua colaboração para enviar dinheiro para uma conta no exterior. A sua “recompensa” é ganhar muito mais do que aquilo que enviou. O remetente da mensagem é alguém que afirma ser da Nigéria.. Pode ser também alguém, da Nigéria, a pedir que o ajude a fazer uma transferência para um paraíso fiscal de um alto membro do Governo que quer esconder o seu dinheiro. A sua “sorte” é que foi selecionado para prestar essa colaboração e que irá receber muitas milhares de euros de recompensa. Mas primeiro, tanto num caso como noutro, é-lhe pedido que faça uma transferência de mil euros. Depois… depois nada. Ficou sem o dinheiro e não tem como recuperá-lo.
A não ser que caia noutro esquema, o dos “lesados das Cartas da Nigéria”. Sim, também existem para lhe extorquir dinheiro. Através de email escrevem que vão ajudá-lo a recuperar o seu dinheiro. Para que isso aconteça tem de adiantar, primeiro, mil euros. Depois… a mesma coisa. Nada. Ficou sem dois mil euros.
Esta fraude já tem barbas cibernéticas, mas há quem continue a cair.
Mas há uma outra que, também não sendo recente, apanha muita gente desprevenida. Chama-se European Business Number (EBN) e já fez vítimas em vários países da Europa. Também em Portugal.
Francisco Sá da Bandeira, dono de uma empresa de Relações Públicas, recebeu, no final de maio, uma carta com remetente de Hamburgo, na Alemanha. “Era um envelope com ar muito europeu, até tinha as estrelas azuis da bandeira da união Europeia”, conta. Nessa carta era-lhe pedido que atualizasse os dados da empresa, como número de contribuinte, telefone, endereço do site, etc. devido a “uma reforma dos impostos em 2003” e a sua “simplificação em 2011”.
Pediu ao departamento de contabilidade que visse a carta e não consideraram haver nada de incorreto, até porque têm “um cliente alemão”. Preencheu os dados solicitados e enviou para a morada de Hamburgo.
Só no início de junho, percebeu que tinha sido vítima de um esquema de fraude. “Mandaram-me uma fatura de 890 euros para pagar um anúncio premium qualquer…”, diz, “fui ver novamente os papéis e tinha, lá, em letras pequenas esse valor, era como se estivesse a assinar um contrato e não atualizar os dados da empresa”. Francisco falou com o seu advogado que o aconselhou a não fazer qualquer pagamento. Enviou sim, um email, a dizer que já tinha percebido que tinha sido “vítima de um esquema” e que o seu advogado o aconselhou a processar a EBN, mas que ele “não tinha paciência, nem tempo a perder”. Entretanto, já recebeu outra fatura a lembrar que ainda não pagou os 890 euros. “Nem vou pagar, isto é um esquema para tirar dinheiro a pequenos empresários e pessoas que trabalham de forma independente”. É que a sua sobrinha, tradutora de profissão, inscrita como trabalhadora independente, teve a mesma experiência em 2016. O método foi o mesmo e agora recebeu uma fatura de uma outra empresa, com sede na República Checa, onde dizem que a sua dívida vai nos 2 670 euros.
Francisco quis perceber, afinal, qual a dimensão deste caso, e fez várias pesquisas na internet. Em Portugal, há registos de queixas na Deco e no Portal da Queixa. Mas há muito mais relatos da mesma situação um pouco por toda a Europa.
Já em 2015 a União de Associações de Comércio e Serviços lançava o seguinte alerta na sua página da internet:
“A UACS foi informada da difusão de comunicações provenientes de uma entidade denominada European Business Number – DAD Deutscher Adressdienst GmbH, com sede em Hamburgo, Alemanha, redigidas exclusivamente em língua inglesa.
A mensagem menciona que ‘the basic entry and the update are free of charge’, mas em caracteres mais pequenos na parte inferior do formulário de resposta é possível ler que, quem subscrever e devolver á empresa o impresso assinado, assume a celebração de um contrato por 3 anos (renováveis) ao preço anual de 677€ [o valor tem vindo a subir ao longo dos anos]
Se os agentes económicos foram induzidos a assinar, por engano, e sendo associados da UACS, poderão contactar o nosso Gabinete Jurídico.”