“O plástico é um falso problema, felizmente não é um problema, até é uma oportunidade excelente para o grande objetivo da AHRESP [que] é fazer de Portugal o destino turístico mais sustentável perante toda a concorrência”, defendeu José Manuel Esteves, em declarações à agência Lusa.
O responsável da AHRESP salientou que “o plástico não é o mínimo problema desde que seja todo reencaminhado para reutilização, tem é de ser seletivamente triado, a montante, não pode ir para os aterros e deve entrar no circuito da reciclagem”, o que consubstancia a economia circular.
“Não é problema, antes pelo contrário, pode ser um excelente exemplo de reutilização”, na opinião de José Manuel Esteves que defendeu a aposta em novas soluções tecnológicas, através da ciência.
Para o secretário-geral da AHRESP, o canal Horeca, que reúne hotelaria, restauração e cafés, “nem sequer consome metade dos plásticos nacionais”, sendo nos lares dos portugueses que “é consumida a maioria”.
José Manuel Esteves referiu a “grande responsabilidade dos municípios e sistemas intermunicipais que fazem a recolha e o tratamento dos resíduos [e que] têm que assumir o papel da sensibilização” dos consumidores.
Do grupo de trabalho criado pelo Ministério do Ambiente para apresentar propostas que enfrentem a questão da poluição pelos plásticos, José Manuel Esteves espera que venha a “permitir que os estabelecimentos, onde vão todos os portugueses e turistas, sejam também promotores das boas práticas ambientais, criando incentivos, cultura e motivações para que o cidadão por si seja um amigo do ambiente”.
“É preciso diagnosticar com clareza quem deita o plástico no oceano e são os cidadãos que utilizam os oceanos ou as beiras dos oceanos”, afirmou.
Questionado acerca da utilização de chávenas ou copos de plástico nos cafés, disse que a restauração de serviço rápido, mais associada ao uso daquele material, “significa um dígito percentual da oferta nacional, a maioria esmagadora não é isso”.
“Inverte-se a tendência garantindo que todo esse plástico seja bem utilizado e, depois de usado, vai para reutilização a 100%, tem é de haver novas culturas para que todos esses utensílios sejam amigos do ambiente”, especificou ainda o secretário-geral da AHRESP, alertando que todos os custos que resultem daquele processo “serão pagos pelo cliente”.
Recordou que, há 20 anos, a AHRESP lançou o projeto Verdoreca para promoção da reciclagem das garrafas de plástico junto dos associados, iniciativa que resultou “muito bem”, mas terminou no final de 2017.
“Estamos a trabalhar com o Governo para alargar o sistema rapidamente a todo o tipo de materiais poluidores não reutilizáveis”, avançou.
Também o código de boas práticas ambientais, publicado pela associação há oito anos, deverá ser reeditado, passando a ser mais abrangente, ao incluir óleos alimentares usados, energia ou resíduos alimentares.
A agência Lusa contactou a Associação das Empresas de Distribuição (APED), outro dos setores com relevância no objetivo de reduzir o consumo de plásticos, apontado pelo Governo e por várias entidades políticas e ambientalistas, mas respondeu que não era o momento oportuno para se pronunciar.
A investigadora da Universidade de Lisboa Isabel Domingos defende que reciclagem não resolve o problema ambiental dos plásticos e é necessário reduzir a sua utilização, com sensibilização dos consumidores e regras que levem a alteração de comportamentos.
“Habituámo-nos a viver de uma forma que não é amiga do ambiente e no futuro vai trazer consequências, nomeadamente na saúde pública, e não é no futuro longínquo porque a quantidade de plástico nos oceanos já é enorme”, disse à agência Lusa Isabel Domingos, do Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa) e investigadora do MARE — Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.
As pessoas ficam chocadas com as imagens do plástico no oceano e com os animais a morrerem por terem ingerido pequenas partículas de plástico, mas depois, no seu quotidiano, não alteram comportamentos, descreve.
É que o plástico apareceu há pouco tempo em termos históricos, “mas facilita muito a vida”, por isso é difícil mudar de hábitos e prescindir da sua utilização, e campanhas de sensibilização e informação podem dar um contributo para a mudança, principalmente se forem apontadas alternativas.
Não se trata somente de reduzir a quantidade de plástico libertado para o ambiente, declara, mas também exigir que a sociedade atual não gire em torno do plástico.
“Enquanto consumidores temos de modificar o comportamento para reduzir a quantidade de plásticos usados, mas este assunto tem de ser resolvido mais a montante”, defendeu a investigadora.
Para Isabel Domingos, “a reciclagem não resolve o problema, é preciso diminuir a produção”, porque o plástico utilizado acaba muitas vezes no oceano.
Só se a reciclagem fosse 100% eficiente, “e sabemos que está longe disso, é que poderíamos reduzir os danos”, alerta.
As entidades governamentais “têm de ser menos permissivas” e tem de haver regras, aponta, admitindo, no entanto, que “decisões políticas que afetem grandemente a economia não são fáceis”.
Mas resolução do problema dos plásticos não se resume também à mudança de comportamentos, já que, o apelo a que se deixe este material é mais eficaz se vier acompanhado de uma alternativa. “O plástico está disseminado por todas as atividades e não tem substituto”, refere a cientista.
Neste ponto, o investimento na investigação é decisivo, de modo a apontar novos materiais ou novas tecnologias.
Isabel Domingos alerta ainda para outra vertente desta questão: “O tempo de transformação tem de ser adequado aos impactos que tem nas economias e na sociedade porque os efeitos socioeconómicos podem ser devastadores se forem regras muito radicais”.
Neste assunto, como em outros, tem de haver um tempo de adaptação à mudança, mas esta transição “tem de ser feita”, declara.
A indústria também já começa a estar desperta para esta problemática e está envolvida na procura de soluções, da abolição de microplásticos nos esfoliantes à substituição do plástico por algodão ou papel nos pauzinhos dos cotonetes.
Ao contrário, é mais difícil encontrar um substituto adequado para o plástico nas redes de pesca.
“O planeta não é infinito e não tem uma capacidade de suportar as nossas pressões infinitamente, já está a dar sinais de alarme em alguns aspetos e essas coisas que fazemos ao planeta destroem a economia”, resume Isabel Domingos, exemplificando com o lixo que chega às praias com as tempestades e que afasta os turistas.