“Liberdade, Igualdade, Camembert!”. É desta forma que um grupo com cerca de 40 chefs, produtores de vinho, fabricantes de queijo e gastrónomos franceses termina uma carta aberta, publicada no jornal Libération, em que apelam ao presidente Emmanuel Macron para que páre com o logro em que se vai tornar um dos mais conhecidos queijos franceses, o Camembert.
Um acordo assinado entre pequenos produtores tradicionais e a grande indústria, no mês de fevereiro, vem, dizem, pôr em causa um produto icónico do país e transformá-lo “numa pasta suave e sem sabor”. Este armistício, selado depois de uma guerra que já durava há quase uma década, vai possibilitar que, a partir de 2021, o Camembert possa ser fabricado, na sua maioria, com leite pasteurizado em vez do tradicional leite cru de vaca.
“Vergonha, escândalo, embuste”, palavras que não são fortes o suficiente para “denunciar a traição”, segundo escrevem, que irá acontecer se os “franceses não protestarem”.
O Camembert, cuja receita tradicional manda que se faça com leite de vaca cru, é um produto da zona da Normandia, que se tornou um dos símbolos de França.
Há alguns anos foi dada a possibilidade à grande distribuição que pudesse pôr o rótulo “Camembert feito na Normandia” desde que as fábricas ali estivessem a ali instaladas, sendo que podiam utilizar leite pasteurizado se fosse das vacas locais.
Os pequenos produtores sempre se queixaram que este rótulo não era suficientemente diferente do seu “Camembert da Normandia”. Esta batalha durava há longos anos.
Com o acordo assinado, os produtores tradicionais cedem na parte do leite cru, bastando, a partir de 2021, que o queijo tenha apenas 30% desse leite, mas ganham no rótulo. A indústria agro-alimentar vai passar a usar a designação “Camembert da Normandia” e a tradicional muda o nome para “Autêntico Camembert da Normandia”.
Os 40 defensores do verdadeiro queijo dizem que, daqui a cinco anos, alguns comerão o verdadeiro e outros uma espécie de “gesso pasteurizado” devidamente legalizado. Apelam a que os franceses se revoltem contra mais um produto que, massificado, perderá o seu real sabor, e que o original acabará na lista dos produtos de luxo.