Imediatamente depois de terminar uma corrida, naqueles segundos em que deixa de pedalar e sente os músculos massacrados, o corpo suado e as reservas de energia a zero, Pedro Simas jura a si próprio “nunca mais faço isto.” Mas a promessa dura pouco tempo. “Quando o sofrimento é controlado, é bom”, diz, em jeito de justificação para, aos 52 anos, continuar a desafiar os limites do corpo, e da mente, em cima de uma bicicleta de todo o terreno.
Ser um cientista de topo, numa das mais relevantes instituições de investigação em Portugal – o Instituto de Medicina Molecular (IMM) – não lhe chega. Nem a “maluquice” de abrir uma geladaria, em pleno Chiado, em Lisboa, com o melhor da concorrência porta sim porta não, foi suficiente para lhe acalmar a vontade de superação.
“O homem sempre teve instinto de descoberta, de ir à conquista. Antes caçávamos e fomos expandindo o território. Hoje somos sedentários e tentamos compensar com o desporto”, compara o virologista. “A competição dá imenso prazer.” E também deixa cicatrizes: marcas do sol, arranhões e nódoas negras.
O que Pedro Simas chama de “prazer” pode parecer a muitos uma perfeita tortura: oito dias em cima de uma bicicleta, fora de estrada, para percorrer o País, de Norte a Sul, em regime de autossuficiência. Etapas de mais de cem quilómetros cada, faça chuva ou faça sol, pelo Portugal rural e montanhoso. É a prova TransPortugal, considerada uma das mais duras do género, em todo o mundo.
Há sete anos Pedro terminou a mítica etapa da Serra da Estrela com 39 graus de febre, por causa de uma amigdalite. Mas nem isso o levou a desistir. E lá chegou a Sagres, com a ajuda do antibiótico, mas sobretudo com o poder da força de vontade. “Só não desisti porque estava a correr pela Liga Portuguesa Contra o Cancro”, admite.
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“
Este ano, vai mais bem preparado. Treinou melhor – desde janeiro, percorreu mais de oito mil quilómetros em cima do selim – estudou bem o tipo de alimentação a seguir antes e durante a prova, comprou uma bicicleta de carbono, muito leve e com uma geometria perfeitamente adequada às exigências da prova.
O que não mudou nada foi a intenção de correr pela luta contra o cancro. Desta vez o cientista leva o logotipo da Fundo IMM-Laço (uma parceria entre o IMM e a associação Laço que tem como finalidade apoiar a investigação na área do cancro). “O meu grande objetivo é dar a conhecer, apresentar o Fundo. Falo dele nos treinos, falarei durante a prova”, avança.
Ao fim de duas etapas, Pedro Simas vai à frente, partindo com a camisola amarela – a prova funciona com um sistema de handicap, em função da idade. “O desporto ensina a não desistir. É muito útil em Ciência”, conclui.
O equipamento:
– Bicicleta (em carbono, rígida, pesa 8, 850 kg)
– Luvas
– Capacete
– Água com carbo-hidratos, géis