Nada melhor do que prestar homenagem às mulheres cientistas portuguesas falando delas – e com elas. É o que vai acontecer na Academia das Ciências de Lisboa, que vai ser o palco de uma conversa informal – e inspiradora, assim se espera – entre seis investigadoras portuguesas e os alunos dos liceus Pedro Nunes e Passos Manuel. Ao debate juntam-se, também, cinco deputados da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência.
As cientistas, de áreas como a Astrofísica, a Biologia Marinha e a Engenharia Eletrotécnica, vão explicar aos estudantes as investigações que desenvolveram até agora e aquelas em que estão a trabalhar neste momento. Para tornar a experiência ainda mais interessante, cada uma das convidadas vai levar consigo um objeto especial, que pode ser uma fotografia, que as tenha inspirado de alguma forma a seguir a carreira científica.
Maria Salomé Pais, bióloga e uma das investigadoras convidadas, escolheu uma foto sua em criança e outra de uma carriça, uma ave muito pequena que a acompanhou durante a sua infância e que a inspirou a seguir o caminho da biologia. A escolha de Isabel Trancoso, engenheira eletrotécnica no INESC-ID, foi uma medalha que recebeu quando terminou o seu mandato como Presidente da ISCA – International Speech Communication Association. “Foi um presente um pouco ‘dependente do género’, porque tem a forma de um coração com uma chave pequenina, mas tenho um enorme orgulho e carinho por este presente, tão importante para mim como distinções de Fellow”, conta. “Relembra-me de quando me disseram ‘Thank you for making us feel part of a community'[Obrigado por nos fazer sentir parte de uma comunidade].”
A neurofarmacologista Cláudia Cavadas, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, vai levar uma pasta, mas o seu conteúdo… prefere não revelar para “não estragar a surpresa”. Zita Martins é astrobióloga e, como não podia deixar de ser, decidiu levar consigo vários meteoritos, porque “são o objeto mais antigo que alguma vez teremos a oportunidade de tocar.”
As mulheres cientistas portuguesas representam 45% do total de investigadores no nosso país e o seu trabalho tem sido muito importante para o desenvolvimento que a Ciência e a Tecnologia nacionais registaram nas últimas décadas.
Mas, afinal, o trabalho das cientistas é ou não valorizado?
Sim, é a opinião da bióloga Maria Pais. “Se o trabalho das cientistas for de alta qualidade, ele é reconhecido em Portugal e no estrangeiro”, diz. Já Isabel Trancoso tem uma visão diferente. “É inevitável que os jovens sejam muito influenciados pelos pais nas escolhas que fazem e as “novas” profissões relacionadas com as Tecnologias de Informação e Comunicação não são tão conhecidas por essa geração”, refere. Apesar disso, Isabel, que também faz parte do grupo para a “Diversidade e Igualdade de Géneros no IST”, diz que se tem “presenciado iniciativas de grande valor no nosso país.”
Mas, mais do que uma questão de género, a ciência, no geral, é uma área muito desvalorizada, na opinião de Zita Martins. “É fundamental haver um maior e regular financiamento de projetos e dar estabilidade aos nossos cientistas”. Cláudia Cavadas partilha da mesma opinião. “As perguntas nunca acabam, as respostas abrem novas perguntas e depois surgem novas ideias e novos caminhos. Por isso, queremos sempre mais”, explica. Porque só dessa forma é que se poderá continuar a fazer investigação de topo no nosso país.
No debate, também vão estar também presentes como convidadas a bióloga marinha Maria João Bebianno e a Engenheira Agrónoma Amarilis de Varennes.