Um quarto individual, uma casa de banho partilhada, cozinha e sala-de-estar comuns. É este o modelo dos dormitórios em expansão na cidade norte-americana de São Francisco. Quem os procura são, sobretudo, pessoas da classe média, de acordo com uma reportagem publicada esta semana no diário The New York Times.
Silicon Valley, o mais célebre pólo tecnológico do mundo, contribuiu para o aumento da procura de casas na cidade e, consequentemente, para a subida das rendas mas, claro, não poderia deixar de lucrar com o problema que ajudou a criar.
Uma start-up local está a comprar edifícios abandonados, hotéis decadentes ou velhos parques de estacionamento e a transformá-los em dormitórios. A Starcity já pôs no mercado 36 unidades e tem nove edifícios em estudo. Até ao final de 2018, conta ter centenas de quartos arrendados, mas espera que no próximo ano sejam já milhares. A lista de espera de futuros residentes ultrapassa as 8 mil pessoas, a maioria entre os 20 e os 50 anos.
Os quartos têm entre 12 a 20m2, a regra é uma casa de banho para cada dois ou três habitantes, mas também será possível arrendar suítes. As cozinhas e salas-de-estar comuns têm capacidade para 8 a 15 pessoas.
Arrendar uma casa ou ir de avião?
Um apartamento com um quarto de dormir custa, em média, €2 600 mensais, em São Francisco. Sendo que a classe média local recebe entre €4 300 e €12 995 por mês. Mas muitos têm rendimentos abaixo destes valores, ficando sem qualquer possibilidade de pagar as rendas exorbitantes cobradas na cidade.
Já o arrendamento de um quarto mobilado num dormitório varia entre €1 130 e €1 900, com as despesas incluídas. Também é possível contratualizar limpeza por €105 semanais ou lavandaria por €32 mensais.
A filosofia da Starcity é garantir alojamento às pessoas com rendimentos que já não lhes permitem receber apoios estatais mas que, mesmo assim, são demasiado baixos para suportar as rendas praticadas na cidade.
O problema da habitação é tão grave que uma empresa de advocacia de Houston, no Texas, prefere levar os seus advogados de jato privado até São Francisco, uma vez por mês, em vez de os alojar na cidade. A Patterson and Sheridan, especializada na área da propriedade intelectual, comprou um avião de nove lugares por €2,4 milhões. De acordo com a empresa, esta opção é mais barata do que contratar advogados em São Francisco ou transferir os seus trabalhadores para lá.
Ao The New York Times, um dos sócios do escritório explicou que o jato da empresa já se tornou um fator de atração de talento porque possibilita trabalhar com as empresas de Silicon Valley e, ao mesmo tempo, viver em Houston, onde o preço do arrendamento é 40% mais baixo do que em São Francisco. Evitando, assim, que também os advogados da empresa sejam obrigados a considerar viver num dormitório.