“Não tenho o direito de proibir nada a ninguém. Tenho é de ajudar a refletir”. É assim que o padre Feytor Pinto reage ao documento de D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, como resposta à exortação apostólica “Amoris Laetitia” (Alegria do Amor) do Papa Francisco.
Nesta exortação, publicada em março de 2016, o Papa apelava às dioceses uma maior abertura para integrarem as famílias formadas a partir de segundos casamentos ou que vivam em união de facto.
Na nota do cardeal de Lisboa, publicada na terça-feira, são dadas seis orientações para os padres que forem confrontados com situações de católicos em “situação irregular”.
Feytor Pinto refere que o texto do cardeal de Lisboa “é engraçado para estudar”, e que, ao mesmo tempo, é “difícil de ler” para quem não leu os três documentos anteriores ali mencionados (“Amoris Laetitia”, a correspondência entre os Bispos da Região Pastoral de Buenos Aires e o Papa Francisco e as indicações dadas aos sacerdotes da Diocese do Papa Roma pelo seu cardeal-vigário).
O padre frisa que não tem sido dada a devida importância a uma das orientações de D. Manuel: “verificar caso a caso”. “Para um orientador de consciências isto é muito importante, pois tenho de ter linhas claras que permitam alternativas, não há aqui proibições. Há a consciência das próprias pessoas, eu não substituo ninguém”, afirma Feytor Pinto, que considera que o cap. VIII do “Amoris Laetitia” (o que refere a abertura da Igreja) tem de ser muito bem pensado e refletido. “Contém momentos de suficiente abertura”.
“Propor a vida em continência” (abstinência sexual) e “Acesso aos sacramentos de modo reservado” são as duas linhas orientadoras que têm causado mais polémica. As proibições estão fora de questão para Feytor Pinto, já o “modo reservado” não o “choca”, mas não aceita que seja “feito às escondidas. A Igreja tem de ser transparente”. E relata situações concretas: “há pessoas que não tenho nenhum obstáculo para que possam comungar, a outros direi estejam atentos…”, dando como exemplo pessoas que “estão sistematicamente a casar”, concluindo que, ao fazer isso, “não dão importância às relações”.
Já Vítor Melícias, padre franciscano, considera, do que já ouviu sobre o documento, que este é “exagerado e inoportuno”, mas atesta que não leu o texto e, por isso, não quer avançar mais nenhum comentário.
Por outro lado, D. João Marcos, bispo de Beja, diz que apenas leu a nota “a correr” e vê nela “aquilo que o Papa também diz”. Ou seja: “Afirmar a tranquilidade do matrimónio e ter atitude pastoral em relação às pessoas que estão em situação irregular”.
Dentro da Igreja Católica não faltam controvérsias. Há duas semanas a VISÃO publicou um trabalho de capa sobre como os conservadores se estão a afastar de uma Igreja mais progressista. Leia ou releia aqui, e aqui .