O procedimento é simples e quase sempre corre bem. Mas cerca de dez por cento dos doentes ficam com sequelas da cirurgia à síndrome do túnel do carpo – um problema num nervo do punho que causa dor, falta de força e dificuldade de movimento.
Dinis Carmo, 65 anos, ortopedista, não estava satisfeito com as técnicas cirúrgicas disponíveis para tratar este problema, mais comum em mulheres, entre os 35 e os 60 anos. Então inventou a sua própria técnica, servida pelos respetivos instrumentos, também criados pelo médico do Porto.
Começou por testar a invenção em cadáveres, treinando em mais de quarenta corpos do Instituto de Medicina Legal. Até que em 2005 se sentiu pronto para começar a tratar pessoas. “A mão é das partes do corpo com mais variantes anatómicas”, nota. Além disso, a intervenção acontece na palma da mão, junto ao punho, uma zona onde nervos, tendões e vasos sanguíneos se amontoam num espaço reduzido.
Com os seus instrumentos, o médico tem conseguido eliminar o erro, ao “manter o comboio nos carris”, ilustra. Ou seja, ao evitar que a faca usada na cirurgia para cortar o nervo afetado vá além do necessário. A nova técnica também deixa uma cicatriz praticamente imperceptível, ao contrário da forma tradicional. Até hoje, Dinis Carmo já operou mais de 500 pessoas, praticamente todas sem complicações.
Em paralelo, o médico foi tratando de patentear a invenção dos instrumentos (a técnica cirúrgica não se pode patentear). Desta forma garante-se que os créditos relativos à utilização dos instrumentos serão, a partir de agora, atribuídos ao inventor português.
Depois de ter conseguido garantir a propriedade do seu kit de instrumentos – fabricados em Portugal -em mais de vinte países, o ano novo chegou com a entrada no mercado americano, o mais competitivo a nível mundial na área dos dispositivos médicos.
Só não se livrou de sofrer, ele próprio, de uma complicação da cirurgia à síndrome do túnel do Carpo. Há dois anos, o médico teve de ser operado pelo método tradicional, já que em Portugal é o único especialista a usar a técnica que inventou. E acabou por nunca recuperar totalmente da intervenção.