Em nome de uma investigação sociológica séria, Rita Sepúlveda e Jorge Vieira inscreveram-se no Tinder, a maior aplicação de dating do momento. Mas nem precisaram de fazer macth com nenhum utilizador – na verdade só queriam analisar o cartão de visita com que os portugueses se apresentam quando querem conhecer pessoas no mundo virtual. Encontraram uma diversidade enorme de tipos de perfis, mas ainda assim conseguiram identificar padrões.
Depois de olharem para 700 fotografias (pertencentes a 100 homens e 100 mulheres), os investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, chegaram logo à conclusão de que são usadas em média quatro imagens no primeiro embate, num máximo permitido de seis.
Como a aplicação é georeferenciada, não estranharam que em Lisboa as pessoas escrevessem os seus textos de apresentação do perfil também em inglês. “A cidade está cada vez mais cosmopolita e passam por cá muitos estrangeiros”, nota Jorge Vieira, 36 anos, professor na área de sociologia da comunicação.
Nesses textos, explica-se muitas vezes que estão ali, no Tinder, só por diversão, para experimentar, ou por causa da recomendação de um amigo. A mensagem das entrelinhas é outra e não andará longe do aviso: “Não estou desesperado.”
Mas há outros utilizadores que estão na aplicação de forma totalmente anónima, sem texto associado, e com uma imagem que não corresponde à sua. E só num dos casos um homem se assumiu como sendo casado.
As fotografias tendem a ser pouco ousadas e não há corpos à vista (ou se os há estão num contexto de praia ou piscina). “A opção pela sobriedade tem a ver com o colapso dos contextos. Hoje, a aplicação está mais mainstream, tornou-se quase um local público. E por isso os utilizadores receiam que lhes apareça por lá o perfil de um colega de trabalho ou de uma tia”, explica o investigador. Ao mesmo tempo, não querem passar a ideia de que são fáceis.
Rita e Jorge registaram a tendência de muitos procurarem aparecer num registo social, com muitos amigos por perto, ou a viajar, posando em frente à Torre Eiffel por exemplo, em atividades desportivas, ou a demonstrar status, especialmente eles, ao volante de carros de alta cilindrada.
O artigo científico que resultou deste trabalho está agora publicado na revista do Obercom, Observatório da Comunicação. No entanto, Rita Sepúlveda ainda não ficou satisfeita. Decidiu alargar a amostra, continuando a debruçar-se sobre o tema para a sua tese de doutoramento. Aguardemos então por mais conclusões.