Há ovos carregados de Fipronil, um pesticida usado para eliminar pulgas, piolhos e ácaros, mas esses estão lá em cima, na Holanda (e Alemanha e Bélgica por importarem deste país). No final do mês de julho, as autoridades sanitárias descobriram que os ovos holandeses estavam contaminados com este produto que já fora proibido para animais destinados ao consumo humano. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a exposição prolongada ao Fipronil pode causar danos no fígado, tiróide e rins e ser especialmente danoso nas crianças. A investigação continua para descobrir de onde vem este mal, mas entretanto já foram destruídos milhares de ovos holandeses e alguns dos principais supermercados dos seus países vizinhos já proibiram a venda desse produto, desde que seja proveniente da Holanda.
Enquanto a crise se tenta resolver a norte, nós por cá vamos sabendo que o Lidl irá abolir a venda de ovos de galinhas criadas em gaiolas. Trata-se da primeira cadeia de retalho em Portugal a tomar esta decisão, reforçando o compromisso da marca alemã com o “bem-estar animal e desenvolvimento de uma cadeia de valor que garante a melhor qualidade para os clientes”, lê-se no comunicado sobre o assunto.
Quase na mesma altura, o Intermarché anunciou que iria abolir esse tipo de ovos das suas prateleiras, mas de forma gradual. Garantem que, em 2025, os clientes já só encontrarão ovos saídos de galinhas criadas no solo, ao ar livre ou biológicos. “A nossa ambição consiste em tornar a alimentação saudável mais acessível a todos”, explica Vasco Simões, administrador do Intermarché.
Em abril, O El Corte Inglés antecipou-se. Fechou uma parceria com a Associação Nacional para a Defesa dos Animais para o mercado espanhol, promovendo o consumo de produtos alimentares que sejam produzidos de acordo com as regras de bem-estar animal. Este acordo contempla a promoção dos ovos provenientes de galinhas que tenham sido produzidas em liberdade e com acesso a currais exteriores. O objetivo é que a cadeia de distribuição espanhola consiga impulsionar, até 2030, o consumo deste tipo de ovos e retirar da venda os ovos provenientes de galinhas produzidas em gaiolas.
Mas afinal o que diferencia estes ovos? Desde 2004 que, através das letras impressas na casca, qualquer pessoa pode saber o que está a comer, dentro da União Europeia. Além das letras do país de origem e da validade, os ovos podem variar entre quatro categorias, que são reconhecidas por números de zero a três.
O Código 3 diz respeito a galinhas de gaiolas convencionais, melhoradas desde 2012. São os mais consumidos e os mais baratos. Este tipo de ovos é produzido por animais que passam a vida adulta fechados numa gaiola. As condições de iluminação são modificadas para criar a ilusão de que há mais horas de sol e, portanto, fazer com que sejam mais produtivas.
No caso do código 2, os animais não estão encerrados em gaiolas, mas todos juntos num extenso galinheiro. A densidade de galinhas é de 9 animais por metro quadrado. Neste modo de produção no solo, e em todos os outros, o bico das galinhas é cortado para não atacarem outras galinhas ou auto-mutilarem-se (maiores limitações só no caso dos biológicos).
As galinhas criadas ao ar livre (código 1) têm um espaço interior onde passam a noite ou se abrigam se o tempo estiver mau. Mas também desfrutam de uma área ao ar livre, em que a densidade mínima é de 4 m2 por animal (40 vezes maior do que no código 2).
Os ovos biológicos (0) são produzidos por galinhas que vivem em condições totalmente distintas: a densidade máxima no interior dos galinheiros é de 6 animais por metro quadrado e ainda se especifica a dimensão dos poleiros, bebedouros, comedouros, aberturas para o exterior e ninhos. A área exterior é idêntica à do código 1, mas beneficiam de uma alimentação que procede de agricultura biológica (a ração está regulada).
Há diferenças no preço, é certo, mas elas também se notam no sabor. Estarão, por isso, os ovos convencionais em risco de desaparecer?