Se Lisboa é agora uma escolha contestada cá dentro para receber a Agência Europeia do Medicamento (EMA), na comparação com outras cidades europeias consegue ser ainda menos consensual. Só na qualidade de vida, a capital portuguesa parece em condições de disputar a relocalização da EMA após o Brexit em 2019.
Num estudo da consultora KPMG – realizado com base em parâmetros sugeridos pela Federação Europeia da Indústria Farmacêutica e Associações (EFPIA) –, Lisboa fica em penúltimo lugar entre 16 cidades europeias. Só Roma fica atrás, com um total de 32 pontos, menos cinco que a capital portuguesa. Na dianteira surge Paris e Copenhaga, com 63 e 62 pontos, respectivamente.
A cidades do sul da Europa têm o pior resultado, por exigirem um esforço extra para “assegurar uma deslocalização suave e a continuação do trabalho ao nível esperado de uma organização como a EMA”. Madrid, Milão, Lisboa e Roma não obtém sequer metade da pontuação total (80 pontos) e formam o terceiro grupo do estudo, com menos condições para receber a agência.
Lisboa distingue-se apenas no valor médio das rendas (as mais baratas depois de Lyon e Bona) e no índice de estabilidade política/ausência de violência. O resto do retrato da capital e do próprio país, feito pela KPMG, apresenta muitas desvantagens: o gasto em investigação e desenvolvimento, na ordem de 1,2% do PIB, é o mais baixo entre os países analisados; Lisboa tem zero universidades de Ciências da Vida ou Medicina na Classificação Académica das Universidades Mundiais (ARWU), só sete empresas relacionadas com estas áreas e apenas 13 produtos em diferentes fases de desenvolvimento.
Em termos de infraestruturas, Lisboa tem poucos hotéis de 3,4 e 5 estrelas (79) em comparação com as outras cidades e menos de 500 voos diretos por semana para outras capitais europeias ou hubs globais. A EMA é uma das agências mais cobiçadas, não só pela dimensão, mas também pela capacidade de atrair cerca de 36 mil visitantes por ano.
No top seis do ranking aparece Paris, Copenhaga, Estocolmo, Munique, Amsterdão e Berlim, por oferecerem “boas condições de trabalho para a equipa da EMA”, com 900 funcionários. “Para lá das excelentes credenciais das instituições académicas, e das suas interligações internacionais, a existência de clusters científicos garante que a EMA não fica trancada numa torre de marfim”, refere o estudo.
No segundo grupo, Viena, Lyon, Bona, Dublin, Bruxelas e Barcelona também oferecem boas oportunidades mas tem pontos fracos relacionados com os clusters científicos e as ligações internacionais.
Os países têm de apresentar a candidatura à agência até 31 de julho. O governo alemão acaba de entrar na corrida e em duas frentes: candidata Bona para receber a EMA e Frankfurt para acolher a Autoridade Bancária Europeia (EBA), as duas agências que estão hoje sediadas em Londres. Também França se candidatou a ambas, mas Bruxelas já indicou que um país só pode receber uma das agências. Os Estados-membros devem decidir qual a nova casa da EMA em outubro deste ano.
O setor farmacêutico, através deste estudo, apontou numa direção. Falta saber qual a decisão política.