E se, durante uma ‘Operação Stop’, lhe dissessem que tem um mandado de prisão pendente? O caso envolveu Bruno Santos na manhã em que conduzia a caminho do trabalho. O homem de 28 anos foi detido por não ter cumprido um processo de reinserção social. Está preso desde abril do ano passado.
O caso remonta a 2006. Bruno Santos tinha então 18 anos e uma dívida de 300 euros para cobrar a um antigo funcionário da Câmara Municipal de Lisboa. Acordaram que o valor seria saldado com o recurso a um cartão “Galp Frota” do município. A proposta era simples: Bruno poderia usar o cartão de combustível até ao montante da dívida.
Mas o acto ilícito acabou por ultrapassar as marcas. Em onze dias, Bruno e um amigo gastaram 48 mil euros a encher depósitos: deles, da família, de amigos, de vizinhos.
“Um disparate” que acabou por valer, em 2009, uma condenação de dois anos e meio de prisão. A sentença determinou a suspensão da pena mas o processo estava longe de terminar.
Para que possam usufruir de pena suspensa, os menores de 21 anos, como era o caso de Bruno Santos, são submetidos a um plano de reinserção social. A medida, obrigatória, existe para evitar reincidências e promover uma integração progressiva dos jovens na sociedade.
Entre 2010 a 2012 terão sido enviadas a Bruno cinco notificações que nunca chegaram ao destinatário. E este não é um caso isolado.
Desde o ano 2000, os avisos de recepção deixaram de ser obrigatórios para alguns actos judiciais. A simples entrega de uma carta do tribunal na caixa do correio é agora suficiente para que o destinatário seja considerado oficialmente notificado.
Há, por isso, inúmeras convocatórias dos tribunais que não estão a chegar a quem deviam. A última notificação remetida a Bruno Santos servia para o avisar solenemente para que se dirigisse aos serviços de reinserção social de forma a evitar a pena de prisão efectiva.
Face a um novo incumprimento, o juiz responsável pelo processo optou por revogar a suspensão da pena e ordenar o seu cumprimento efectivo.
A decisão baseou-se nas “diversas diligências” que o tribunal desenvolveu no sentido de notificar o arguido e por considerar que “a reintegração do condenado na sociedade foi totalmente inconsequente”.
Às 7h da manhã de 1 de Abril de 2016 Bruno foi mandado parar numa operação Stop de rotina. O sistema informático da PSP foi rápido a detectar que havia um mandado de detenção por cumprir.
Para trás ficaram a mulher, o filho, o trabalho que tinha há anos. A história de Bruno Santos revela como uma notificação judicial perdida pode deixar várias vidas em suspenso. Para ver segunda-feira na SIC, depois do Jornal da Noite.
“Vidas Suspensas” é um programa de informação, da SIC, da autoria da jornalista Sofia Pinto Coelho, que aborda casos de pessoas que, por questões relacionadas com a justiça, se encontram com a vida em suspenso. Este programa semanal de 8 episódios, emitido semanalmente, às segundas-feiras, logo a seguir ao Jornal da Noite, na sic.pt