O milionário americano acredita que, se um trabalhador paga impostos sobre o seu rendimento, seria de esperar que os robôs que o substituem “fossem taxados a um nível semelhante”. Dessa forma, o dinheiro ganho pode ser utilizado para investir em carreiras onde “a empatia e compreensão humanas ainda são muito únicas”, como o apoio aos idosos ou aos jovens com necessidades especiais, explica. Bill Gates defende ainda que cabe aos governos apoiar os profissionais de baixos rendimentos afetados pela robotização do mercado de trabalho, podendo investir na educação e no aumento de serviços sociais de apoio aos desfavorecidos.
E as companhias do setor robótico? “Não penso que ficariam indignadas com um eventual imposto”, garante Bill Gates. Mas não só dessa taxa se poderia obter o dinheiro para as outras áreas, segundo o empresário. Parte do investimento poderia partir dos próprios lucros gerados pela redução dos custos com a mão de obra.
Gates incita à solução de um problema que se aproxima rapidamente. Nos próximos 20 anos quem trabalhe, por exemplo, em armazéns, a conduzir ou a limpar vai ter de se ver abrigado por políticas que compensem a substituição do seu emprego pela automação robótica, declara. Mas esses desempregados podem ser aproveitados para outras áreas. O importante, acredita, é manter o entusiasmo pela inovação, e evitar o medo da evolução.
As declarações surgem no rescaldo do envio pelo Parlamento Europeu à Comissão Europeia de um relatório que pede uma maior legislação sobre o setor da indústria robótica e inteligência artificial, que a VISÃO noticiou na edição impressa da semana passada. A eurodeputada socialista responsável pela iniciativa, Mady Delvaux-Stehres, redigiu o documento face a preocupações com a relação entre robôs e seres humanos, e propôs também uma taxa sobre a utilização de robôs, para que se compensasse a perda de emprego resultante do aumento da sua presença. Os fundos seriam então orientados para formar os profissionais desempregados noutras áreas. As máquinas mais sofisticadas poderiam ainda ser consideradas “pessoas eletrónicas”, com um eventual regime de segurança social.
Na passada quinta-feira, 16, o Parlamento Europeu aprovou a resolução, mas não na totalidade. Incluiu o pedido (à Comissão Europeia) de um enquadramento ético para o desenvolvimento e utilização dos robôs e sugeriu a criação de um estatuto jurídico específico que os abranja. Foram mais longe – aqueles que tomam decisões autónomas devem ser classificados como “pessoas eletrónicas”. A iniciativa legislativa pede também a criação de uma agência europeia para a robótica e inteligência artificial.
Mas ficou chumbada na resolução a ideia de um imposto sobre os proprietários empresariais de robôs, decisão aclamada pela setor da indústria robótica. O polémico imposto por pouco não passou na malha parlamentar: foram 302 votos contra, 288 a favor.
A resolução parlamentar, essa, foi aprovada com uma maioria de 396 votos a favor, para 123 contra e 85 abstenções. Seguiu para a Comissão Europeia, a quem cabe agora a última palavra sobre a legislação na matéria – o executivo comunitário pode até decidir não seguir as recomendações do Parlamento Europeu. Mas, nesse caso, terá de justificar porquê.
O imposto sobre as máquinas que substituem os humanos é uma opinião que encontra algum eco pelo resto da Europa. Benoît Hamon, o candidato favorito da esquerda francesa às presidenciais, em abril, também propõe um “imposto sobre a riqueza criada pelos robôs”. Na página oficial da campanha, Hamon justifica esta medida com a redistribuição dos lucros, “que beneficiam essencialmente os acionistas”, por todos os cidadãos, servindo de pilar à sua proposta de uma “renda universal de existência”. Ou seja, um rendimento para todos os franceses.