Já lá vai o tempo em que Sir Chris Llewellyn Smith esteve à frente do maior laboratório de física de partículas do mundo, o CERN, na Suíça. Foi sob a sua direção, entre 1994 e 98, que se iniciou a construção do LHC, o acelerador de partículas que permitiu a célebre descoberta do bosão de Higgs. De resto, o percurso deste físico, nomeado cavaleiro pela rainha Isabel II em 2001, é tão vasto que o prémio Nobel é das poucas coisas que lhe deve faltar no currículo. Mas agora, aos 73 anos, Sir Chris Llewellyn Smith tem percorrido o globo para falar sobre energia e sustentabilidade.
Uma boa palestra de um catedrático inglês deve ter sempre uma piada, mesmo que o assunto seja demasiado sério. Llewellyn Smith arriscou uma de inspiração saudita que diz: ‘O meu pai andou de camelo, eu conduzo um carro, o meu filho anda de avião e o filho dele vai andar de camelo’. É uma graça que prenuncia a desgraça mas o físico contou-a apenas para explicar que não se revê em tanto pessimismo. Ainda assim, o retrato que faz sobre o rápido crescimento do consumo de energia à escala global, motivado pela alteração dos padrões de consumo nos países em desenvolvimento, é preocupante. Independentemente das fontes onde é produzida, e a título de exemplo, “um norte-americano gasta três vezes mais energia que um português, sete vezes mais que um egípcio e 32 vezes mais que um bangladeshiano”.
Otimista com o recente acordo de Paris, assinado por potências como a China e os EUA para a redução de emissões de dióxido de carbono a partir de 2020, Llewellyn Smith alerta que as mudanças climáticas e o aquecimento global são um problema sério e há que tomar medidas urgentes. Há um motivo adicional para querer eliminar as energias fósseis “a que não se está a dar a devida atenção, que é a contaminação do ar”. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 12,5 por cento das mortes à escala mundial são motivadas pela poluição. “Respirar o ar em Nova Delhi, por exemplo, é como fumar 40 cigarros por dia”, explica o professor.
Perante uma plateia repleta de jovens, o físico frisou que “é urgente descarbonizar”, eliminando progressivamente a dependência das energias fósseis substituindo-as por outras fontes renováveis como a hídrica, a eólica, a solar e a nuclear. O problema maior que se coloca está relacionado com os custos que, na maioria dos casos, são muito mais elevados atualmente e, por isso, pouco atraentes. Para promover essa mudança é necessário convencimento político, desenvolvimento tecnológico e a implementação de políticas que sejam aceitáveis pelos consumidores. Em resumo, conclui Llewellyn Smith, “não há uma ‘bala de prata’ para resolver estes problemas mas tem de haver um misto de idealismo e realismo para a sua concretização”.