Tippi Hedren posa ao lado do busto de Alfred Hitchcock, que a dirigiu no filme Pássaros, numa cerimónia de homenagem ao realizador, em 1999, promovida pela Universal Studios, em Los Angeles
SCOTT NELSON
A cacha chega via New York Post, o que não abona muito a favor da sua veracidade, mas o tira-teimas é já amanhã, 1 de novembro, dia em que o livro de memórias da atriz Tippi Hedren, Tippi, vai para as livrarias. Segundo o jornal, a mãe de Mélanie Griffith conta que os seis meses de rodagem do filme Os Pássaros foram o horror por causa dos constantes abusos de Alfred Hitchcock.
O realizador, que a viu pela primeira vez num anúncio de televisão, estaria tão obcecado que bastava que ela falasse com um homem para se tornar “muito frio” e “irritável”. Possessivo até à última casa, proibiu previamente todos aqueles que iriam contracenar com a atriz – sobretudo Rod Taylor – de lhe falar ou tocar. E, sempre que a via a fazer alguma dessas coisas, ficava a olhá-la fixamente, “de uma forma inexpressiva”, mesmo que estivesse na outra ponta da sala.
Tippi Hedren recorda ainda que Hitchcock lhe contou que tinha ficado com uma ereção durante uma cena que estava a realizar entre Cary Grant e Grace Kelly, no filme Ladrão de Casaca. A obsessão por ela atingiu tais proporções que mandou analisar a sua letra e ordenava com frequência ao motorista para passar devagar à frente de sua casa.
Um dia, pediu-lhe que lhe tocasse e tentou beijá-la, contra sua vontade, no interior de uma limusine. “Foi horrível, um momento horrível”, escreve a atriz, que nunca se queixou porque duvidava que alguém no estúdio acreditaria no que se passava. “Qual dos dois era mais valioso para eles, ele ou eu?”
Um ano depois, durante a rodagem de Marnie, Confissões de uma Ladra, Hitchcock voltaria à carga. O realizador terá mandado ligar o seu escritório ao camarim da atriz, chegando a lá entrar mais do que uma vez, e a tocar-lhe. “Ele era sexual e perverso”, conta. “Quanto mais me opunha, mais agressivo ficava.”
Além de assediá-la sexualmente, Hitchcock seria mentiroso e insensível. Na cena final de Os Pássaros, foi mesmo “brutal e desagradável” ao optar por incluir aves verdadeiras, quando lhe dissera que iriam ser falsas. “Nem o melhor treinador do mundo poderia ter controlado cada movimento dos animais, especialmente numa situação de stresse”, lembra a atriz.
As filmagens complicaram-se tanto que, numa das cenas, Tippi Hedren quase perdeu um olho. Mas quando o médico sugeriu que ela tirasse uma semana de descanso, o realizador recusou. A sua recusa foi tão inesperada que o médico lhe perguntou: “Estás a tentar matá-la?”
Os dois nunca mais filmariam juntos, embora tenham mantido algum contacto até à morte do realizador, em 1980. E a atriz admite que não voltou a entrar num filme tão “recompensador” como Os Pássaros ou Marnie (e fez mais 50). Se agora decidiu abrir a Caixa de Pandora foi para demonstrar que, embora Hitchcock possa ter-lhe arruinado a carreira, ela nunca lhe deu “o poder” de ele arruinar a sua vida.
