Já fotografou um catálogo no Cais Palafítico da Carrasqueira, na Comporta, e mais recentemente escolheu Lisboa para apresentar a farda oficial da delegação cubana nos Jogos Olímpicos, que criou em parceria com a loja francesa Sporty Henri. “Se há um local que gosto de dar a conhecer às pessoas é Portugal”, revelou o designer à VISÃO, no terraço do Palácio Belmonte, em Lisboa, horas antes de partir para o seu refúgio no Alentejo. Confessou ser longa a lista dos amigos a quem já apresentou o país e as maravilhas nacionais que o fascinam, como a arquitetura, os jardins e os “perigosos” azulejos. “Para mim são como uma droga. Adoro-os, mas são muito caros!”, lamentou o criador francês de 53 anos. Apesar do desgosto pelo “trabalho vergonhoso” na Herdade da Comporta, o seu único problema com Portugal passa pelo nosso cobiçado peixe…
Sente que Portugal está na moda?
A minha relação com Portugal é um pouco como a minha relação com os sapatos… Desenho sapatos há muito tempo, e agora fala-se muito do seu lugar no imaginário feminino, mas eu não penso muito sobre isso. Na verdade, não compreendo muito bem esta excitação recente relativamente a Lisboa porque sempre adorei a cidade.
Tem uma casa em Alfama. Que tem Lisboa de particular?
Lisboa tem praticamente todas as qualidades de uma capital sem ter os defeitos. A primeira qualidade é as pessoas serem extremamente simpáticas.Além disso, a cidade é belíssima. Aqui encontro todas as qualidades de Paris. Uma coisa que gosto particularmente em Paris são os telhados. Os telhados de Paris são muito imbricados e cinzentos, refletem uma luz muito particular, lunar, fria. Aqui é o inverso, os telhados refletem uma luz colorida. É muito bonito. Lisboa é o reflexo feminino de Paris.
Também tem uma casa perto de Melides. A zona da Comporta ainda é um bom refúgio ou começa a ter gente a mais?
Há uma parte do Alentejo que eu adoro, mas não gosto nada da Comporta. Já conheço a Comporta há muitos anos, mas ao contrário do que está a acontecer em Lisboa, acho muito triste o que se está a passar lá. É uma zona muito bonita, mas a Herdade da Comporta fez um trabalho vergonhoso. Vergonhoso. O charme daquele local desapareceu completamente. Há candeeiros a cada dez metros, pavimento horroroso…
O designer de sapatos mais famoso do mundo, Christian Louboutin, tem casa em Lisboa e no Alentejo, para onde foi depois de conversar com a VISÃO no Palácio Belmonte, em Lisboa
Gonçalo Rosa da Silva
O que o atrai nesse Alentejo que adora?
Eu viajo muito e estou sempre rodeado de muitas pessoas… Desde pequeno que não gosto de férias com muita gente. Nunca gostei de estar nos “sítios da moda”, sempre preferi descobrir locais interessantes, com pessoas interessantes. Adoro os locais que permanecem autênticos e onde eu me sinto desenraizado. A parte que me interessa do Alentejo é uma parte onde não há franceses, que não me apetece nada encontrar em Paris quanto mais no Alentejo! Não gosto de encontrar pessoas quando estou de férias, gosto de ter experiências.
E de exclusividade…
Voilà!
Cada vez mais celebridades e artistas vêm a Portugal. O que é que temos para lhes oferecer?
A qualidade de vida. Mas há uma coisa que só se descobre quando se vem cá: a comida é deliciosa. Curiosamente, os portugueses não são muito bons a mostrarem o que têm de bom. Essa não é uma das suas qualidades, mas também não é um defeito. Prefiro pessoas discretas do que o contrário. Faz parte do charme de Portugal os portugueses não saberem vender-se. São orgulhosos, porque gostam do seu país, mas nunca se põem em bicos de pés. Por causa disso, há muitas coisas que as pessoas desconhecem sobre Portugal.
Já contactou com a indústria portuguesa de calçado?
Não, mas conto fazê-lo. Gostava de trabalhar com cortiça, mas não de forma chata, quero trabalhá-la como se fosse… uma rocha. Para fazer algo assim o sítio certo é Portugal.
De que gosta menos quando está em Portugal?
Sou alérgico a peixe desde criança e tenho de ter muito cuidado por causa disso, mas aqui não é tão complicado como no Japão. Com os crustáceos não tenho problemas, mas se comer uma sardinha morro.
Se um dia se reformar acha que virá para Portugal?
Reformar-me? Jamais pensei na reforma! Acabei de começar, sou um bebé! Mas Lisboa seria a pior cidade para a reforma. É preciso estar bastante em forma para andar a pé pela cidade.
