Chegou ao hospital de madrugada a pedir ajuda para as fortes dores abdominais que sentia. Nunca mais voltou a casa.
A suspeita de que teria induzido um aborto – proibido pela lei Argentina – levou a equipa médica e de enfermagem do Hospital Avellaneda a apresentar uma queixa. E Belén nunca mais foi livre.
Detida em Tucumán, uma das províncias mais ricas da Argentina, a jovem de 27 anos deu uma entrevista ao diário Página 12 em que conta o que lhe aconteceu. “Eu não matei ninguém.” Mas, “fui de minha casa ao hospital e do hospital à prisão”.
Segundo o relato de Belén, pouco depois de ser detida foi encontrado um bebé morto na casa de banho e as autoridades depreenderam imediatamente que seria dela. Com uma moldura penal que pode ir aos 25 anos de prisão, o crime de que é acusada acabaria por traduzir-se numa pena de 8 anos.
Além de estar a ser castigada por um delito que diz não ter cometido, Belén foi ainda mal aconselhada pelo primeiro advogado. “Pagámos-lhe 7500 pesos [450 euros]. Disse-me que havia um teste de ADN que me condenava e que corria o risco de ser condenada a pena perpétua”.
Mais tarde, aconselhada por uma nova advogada, Soledad Deza, que se interessou pelo caso, Belén chegaria à conclusão que as autoridades não tinham qualquer prova contra ela – nem sequer o teste de ADN.
Além das múltiplas manifestações públicas em vários países, a Amnistia Internacional e as Nações Unidas juntaram-se já aos apelos de libertação de Belén.
Embora tenha sofrido um aborto espontâneo, a jovem argentina está a ser vítima de um sistema judicial que proíbe o ato e não tem definidas políticas públicas para casos de interrupção involuntária da gravidez, algo que acontece a uma em cada dez gravidezes em todo o mundo. Sem qualquer contributo ou vontade das mulheres.
Nos últimos tempos, as organizações humanitárias têm denunciado o risco de condenações como a de Belén porque tem levado muitas mulheres a terem receio de ir ao médico com alguma queixa e poderem vir a ser acusadas injustamente. Belén, que passa os dias a ler na prisão, acredita agora que pode ser a voz de muitas mulheres argentinas. E garante que não descansará enquanto não for feita justiça.