Desapareceu com o Casal Ventoso há mais de 15 anos e sobressaía naquela encosta lisboeta de construções sem rei nem roque, para quem olhava ao passar na Avenida de Ceuta. Era uma casa que dava a impressão de estar meia suspensa no ar e tão estreita que para chegar de um ponta à outra seria necessário percorrer todas as ‘divisões’.
Quem guarda esta imagem na memória pode imaginar com maior facilidade o formato da casa construída numa favela de São Paulo que este ano está a arrecadar vários prémios de arquitetura, como o de melhor casa do ano para o site ArchDaily, um dos mais conceituados na área. A casa onde vive dona Dalva, uma empregada de limpeza de 70 anos, mede apenas 4,8 metros de largura (e 25 de comprimento) e também foi premiada na Bienal Ibero-americana de Arquitetura e Urbanismo – cuja exposição passa esta semana por São Paulo -, além de ter
marcado presença na Bienal de Veneza.
Tudo começou em 2011, quando uma parte do teto ruiu enquanto dona Dalva tomava duche. A casa já deixava passar a chuva, nas paredes dominava a humidade e antes que algo pior acontecesse o filho de dona Dalva, que mora com ela, contactou uma firma de arquitetos.
A Terra e Tuma Arquitetos Associados aceitou o desafio de criar o projeto para uma habitação de baixo custo, paga com as economias de 50 anos de dona Dalva e a ajuda do seu filho. Por não mais de 41 mil euros, o resultado foi uma solução arquitetónica que, ao primar pela simplicidade, enquadra-se na perfeição no lugar a que pertence. Sem deixar de responder a alguns dos anseios da proprietária, como uma cozinha funcional e espaço para as suas plantas crescerem.
Ao passar a porta de entrada, com um pequeno pátio à frente que serve de estacionamento, entra-se de imediato na sala de jantar. Depois da casa de banho, a parte central é ocupada pela cozinha e um jardim exterior, seguindo depois para uma área de serviço, com o quarto de dona Dalva ao fundo. No andar de cima, além do quarto do filho, os arquitetos projetaram um terraço. No total, são 95 m2 de área útil, com paredes e chão de cimento à vista, sem portas a separar as divisões e muita luz exterior a entrar pelas janelas – outra das grandes novidades em relação à casa anterior.
Veja as fotos (com mobiliário dos arquitetos):
Este artigo ocupa o 4º lugar do Top 15: Os mais vistos do site da VISÃO em 2016